Comecei a praticar a Capoeira em 1978, com Mestre Índio do
Mercado Modelo, com o Grupo de Capoeira Regional Filhos de Oxossi, foi uma das
primeiras academias de capoeira de Porto Alegre. O local era no terceiro andar
de uma das entradas secundarias da Galeria do Rosário, na parte inacabada do
prédio que por sinal continua inacabado até hoje. O acesso era feito pela Gal.
Vitorino, ou pela própria Alberto Bins.
Eu era bastante magro e não levava jeito para o troço tinha muita
dificuldade. Um fato pitoresco é que o Mestre já morava na cidade há algum
tempo mas ainda não tinha fincado raízes
na cidade. Ele morava numa quitinete no mesmo local da Academia e ele mesmo que
tentava organizar a parte administrativa da academia. Foi quando apresentei
para o Mestre minhas amigas Maria, sua
prima Jussara lá da Vila Ingá. Elas passaram a secretariar a Academia e
conviver com o Mestre que inclusive
acabou se casando com a Jussara. No grupo Filhos de Oxossi conquistei o cordel
verde o primeiro da capoeira regional em um grande batizado realizado no
Petrópolis Tênis Clube. No início da década de 80 o Mestre foi convidado a dar
aulas em uma grande e conceituada academia de dança de Porto Alegre a Academia
Mudança, nesta ocasião à antiga Academia da Galeria do Rosário acabou e como
muitos alunos não tiveram condição de acompanhar a mudança do centro para a
avenida Independência ficaram de fora desse novo momento do grupo Filhos de
Oxossi. No grupo Filhos de Oxóssi conheci capoeiristas como Ligeirinho, Grilo,
Carcará, Biriba, Kunta Kinte, Torelli, entre outros. A capoeira praticada nesta
época era bastante agressiva e exigia grande desenvolvimento físico e técnico o biótipo era fundamental para se
destacar e evoluir no processo. Os
treinamentos seguiam a linha militar com varias sessões de treinamento
sucessivas com repetição de golpes e seqüências nesta época não se falava
claramente em seqüência de regional de Bimba embora se praticasse alguma coisa
da seqüência e dos balões cinturados.
Com o fechamento da Academia
no centro e a novas condições para fazer capoeira na Mudança, acabei indo
treinar com um dos alunos formados pelo Mestre Índio o Eduardo Torelli. Nesta
ocasião treinávamos na sede da Federação Gaúcha de Pugilismo na esquina da rua
Riachuelo com Caldas Junior em um casarão muito antigo o grupo se denominava
Macunudos do Berimbau nome de autoria do Torelli, neste grupo tive o apelido de
Zeus devido a uma grande barba que eu usava na época. Os treinos eram muito
pegados e cheguei a quebrar a fíbula ao receber uma meia lua de compasso em
certa ocasião. Os treinamentos seguem a linha militaresca com sessões de
treinamentos específicos ainda não se falava abertamente em seqüência de Bimba.
Eu ainda era meio desajeitado mas era insistente e num batizado realizado lá
mesmo no velho casarão da Riachuelo, com a presença de Carcará e do Nino, recebi o cordel verde-amarelo. Pouco
tempo depois o casarão foi considerado comprometido e tivemos que parar de
treinar lá subitamente, em seguida ele foi derrubado. Nessa época havia chegado em Porto Alegre o Mestre Miguel
Machado e estava estabelecido com sua academia e com o Grupo Cativeiro de
capoeira na r. Gen. Câmara, mais ou menos no meio da quadra em um prédio de
três andares. Fui treinar com o Grupo Cativeiro por indicação do próprio
Torelli, bem, antes tive que passar por período de testes e provações que durou
mais ou menos uns três meses onde era permanentemente testado quanto as minhas
condições físicas e meus propósitos com a capoeira. Mestre Miguel era bastante
comprometido com questões políticas, raciais e sociais e não aceitava como seus
alunos só quem pudesse pagar para aprender seu conhecimento tinha que ter
compromisso com o grupo e com a capoeira. Estávamos talvez em 1983 e já chegava
ao cordão amarelo e convivi com Treze, Ivonei, Chola, Bartelemi, Mico, Ratinho,
Fernando, Jaburu, Marcelo entre outros. Foi atraves das idéias do Mestre Miguel
que passou a aprofundar o conhecimento a respeito da Capoeira Angola que
comecei a despertar meu interesse para questões que envolvessem aspectos
sociais, culturais e raciais relacionados com a capoeira. Sempre tive muitas dúvidas a respeito da
exigência de se possuir um biótipo especial que te habilitasse a praticar
capoeira que era o modelo que eu conhecia do Filhos de Oxossi. Entendia que ao
contrario a capoeira era muito mais astúcia, técnica do que força. Essas
questões me levavam a questionar a capoeira regional como única verdade
absoluta a respeito da capoeira. Os treinamentos na escola de Mestre Miguel já
não são tão rígidos e militarescos, já predominam os movimentos de capoeira, se
fala e se pratica a seqüência de capoeira regional de Mestre Bimba e os balões
cinturados. Em outra ocasião Mestre Miguel levou Mestre João Pequeno a Porto
Alegre e eu levei o Mestre e alguns de seus alunos que o acompanhavam na
ocasião a uma festa de batuque na Vila São José, na qual meu pai de santo
Carlinhos da Óxum se apresentava como Alabê. Ao final de 1984 Mestre Miguel
retornou para a Bahia e eu tive a oportunidade de lhe visitar na ilha de Itaparica
e ter meu primeiro contato com a capoeira na cidade do Salvador, onde conheci aida vivo Waldemar da Liberdade e trouxe dois berimbaus feitos pelo Mestre, conheci a capoeira na Ilha de Itaparica.
Em 1985 conheci Rogério
Rasta de Belo Horizonte que veio a Porto Alegre com um grupo de teatro e pela
primeira vez alguém se apresentou como angoleiro de fato, na ocasião levei ele
na Diretoria Natural local que o Mico dava aulas e ele falou a respeito de
Mestre Pastinha e da Capoeira Angola. Alguns anos mais tarde em 1992 fui morar
em Belo Horizonte e próximo do local em que eu trabalhava eu passava e ouvia o
som de berimbaus. Um dia resolvi entrar e mesmo de terno e gravata me
ofereceram um pandeiro que toquei junto com
Jauvert, André e Primo, bem passei a freqüentar o local e treinar
regularmente a Capoeira Angola que era coordenada pelo Primo, mas participavam
vários grandes e bons capoeiristas como Andréia, Edu, Alcione, os Ricardos, era
o Grupo Iuna de Capoeira Angola, este grupo tinha sido fundado por Rogério
Rasta que nessa época estava na Alemanha. Conheci a fina flor da capoeiragem de
Beaga, o GCAP de Léo, Wiliann, a FICA de
Jurandir . O Joãzinho com sua academia no terraço da Rua da Bahia e sua roda. O
Edson a Dra. Fafá. Aprendi os fundamentos da capoeira angola em Belo Horizonte
e também foi lá que conheci Mestre Moraes.
Com quem desde 1997 passei a treinar desde que fui morar em na cidade do
Salvador. Mestre Moraes é o responsável pela
idéia de uma formação integral na capoeira fundindo elementos místicos,
rutualisticos, sociais, culturais e filosóficos. Não existe capoeira sem comprometimento
isso Mestre Miguel já havia me ensinado, mas
é essencial saber o que estamos fazendo e porque estamos
fazendo a capoeira nesse momento histórico qual seu significado. O Grupo de
Capoeira Angola Pelourinho com que convivi era formado pelos seguintes
capoeiras: Pepeu, Marcio, Ulugimi, Honorato, Neide, Verônica, Linda, Álvaro,
Roberto, Marcos Rasta, Lenilton entre outros. Morei em no Salvador até 2003
quando retornei para o Rio Grande do Sul me fixei em Restinga Seca onde
desenvolvi projeto com a comunidade remanescente de quilombo do São Miguel,
Onde procuramos despertar o conhecimento e o interesse pela nossa historia em
crianças e adolescentes da comunidade. Participei da tentativa de criação do
núcleo do GCAP em Porto Alegre mas desde muito cedo identifiquei dificuldades
para consolidar o projeto, estive
envolvido até o seu final.
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