terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Minha história com a Capoeira começou em 1978.

Comecei a praticar a Capoeira em 1978, com Mestre Índio do Mercado Modelo, com o Grupo de Capoeira Regional Filhos de Oxossi, foi uma das primeiras academias de capoeira de Porto Alegre. O local era no terceiro andar de uma das entradas secundarias da Galeria do Rosário, na parte inacabada do prédio que por sinal continua inacabado até hoje. O acesso era feito pela Gal. Vitorino, ou pela própria Alberto Bins.  Eu era bastante magro e não levava jeito para o troço tinha muita dificuldade. Um fato pitoresco é que o Mestre já morava na cidade há algum tempo mas ainda  não tinha fincado raízes na cidade. Ele morava numa quitinete no mesmo local da Academia e ele mesmo que tentava organizar a parte administrativa da academia. Foi quando apresentei para o Mestre minhas amigas  Maria, sua prima Jussara lá da Vila Ingá. Elas passaram a secretariar a Academia e conviver  com o Mestre que inclusive acabou se casando com a Jussara. No grupo Filhos de Oxossi conquistei o cordel verde o primeiro da capoeira regional em um grande batizado realizado no Petrópolis Tênis Clube. No início da década de 80 o Mestre foi convidado a dar aulas em uma grande e conceituada academia de dança de Porto Alegre a Academia Mudança, nesta ocasião à antiga Academia da Galeria do Rosário acabou e como muitos alunos não tiveram condição de acompanhar a mudança do centro para a avenida Independência ficaram de fora desse novo momento do grupo Filhos de Oxossi. No grupo Filhos de Oxóssi conheci capoeiristas como Ligeirinho, Grilo, Carcará, Biriba, Kunta Kinte, Torelli, entre outros. A capoeira praticada nesta época era bastante agressiva e exigia grande desenvolvimento físico e  técnico o biótipo era fundamental para se destacar e evoluir no processo.  Os treinamentos seguiam a linha militar com varias sessões de treinamento sucessivas com repetição de golpes e seqüências nesta época não se falava claramente em seqüência de regional de Bimba embora se praticasse alguma coisa da seqüência e dos balões cinturados.
Com o fechamento da Academia no centro e a novas condições para fazer capoeira na Mudança, acabei indo treinar com um dos alunos formados pelo Mestre Índio o Eduardo Torelli. Nesta ocasião treinávamos na sede da Federação Gaúcha de Pugilismo na esquina da rua Riachuelo com Caldas Junior em um casarão muito antigo o grupo se denominava Macunudos do Berimbau nome de autoria do Torelli, neste grupo tive o apelido de Zeus devido a uma grande barba que eu usava na época. Os treinos eram muito pegados e cheguei a quebrar a fíbula ao receber uma meia lua de compasso em certa ocasião. Os treinamentos seguem a linha militaresca com sessões de treinamentos específicos ainda não se falava abertamente em seqüência de Bimba. Eu ainda era meio desajeitado mas era insistente e num batizado realizado lá mesmo no velho casarão da Riachuelo, com a presença de Carcará e do  Nino, recebi o cordel verde-amarelo. Pouco tempo depois o casarão foi considerado comprometido e tivemos que parar de treinar lá subitamente, em seguida ele foi derrubado. Nessa época havia  chegado em Porto Alegre o Mestre Miguel Machado e estava estabelecido com sua academia e com o Grupo Cativeiro de capoeira na r. Gen. Câmara, mais ou menos no meio da quadra em um prédio de três andares. Fui treinar com o Grupo Cativeiro por indicação do próprio Torelli, bem, antes tive que passar por período de testes e provações que durou mais ou menos uns três meses onde era permanentemente testado quanto as minhas condições físicas e meus propósitos com a capoeira. Mestre Miguel era bastante comprometido com questões políticas, raciais e sociais e não aceitava como seus alunos só quem pudesse pagar para aprender seu conhecimento tinha que ter compromisso com o grupo e com a capoeira. Estávamos talvez em 1983 e já chegava ao cordão amarelo e convivi com Treze, Ivonei, Chola, Bartelemi, Mico, Ratinho, Fernando, Jaburu, Marcelo entre outros. Foi atraves das idéias do Mestre Miguel que passou a aprofundar o conhecimento a respeito da Capoeira Angola que comecei a despertar meu interesse para questões que envolvessem aspectos sociais, culturais e raciais relacionados com a capoeira.  Sempre tive muitas dúvidas a respeito da exigência de se possuir um biótipo especial que te habilitasse a praticar capoeira que era o modelo que eu conhecia do Filhos de Oxossi. Entendia que ao contrario a capoeira era muito mais astúcia, técnica do que força. Essas questões me levavam a questionar a capoeira regional como única verdade absoluta a respeito da capoeira. Os treinamentos na escola de Mestre Miguel já não são tão rígidos e militarescos, já predominam os movimentos de capoeira, se fala e se pratica a seqüência de capoeira regional de Mestre Bimba e os balões cinturados. Em outra ocasião Mestre Miguel levou Mestre João Pequeno a Porto Alegre e eu levei o Mestre e alguns de seus alunos que o acompanhavam na ocasião a uma festa de batuque na Vila São José, na qual meu pai de santo Carlinhos da Óxum se apresentava como Alabê. Ao final de 1984 Mestre Miguel retornou para a Bahia e eu tive a oportunidade de lhe visitar na ilha de Itaparica e ter meu primeiro contato com a capoeira na cidade do Salvador, onde conheci aida vivo Waldemar da Liberdade e trouxe dois berimbaus feitos pelo Mestre, conheci a capoeira na Ilha de Itaparica.
Em 1985 conheci Rogério Rasta de Belo Horizonte que veio a Porto Alegre com um grupo de teatro e pela primeira vez alguém se apresentou como angoleiro de fato, na ocasião levei ele na Diretoria Natural local que o Mico dava aulas e ele falou a respeito de Mestre Pastinha e da Capoeira Angola. Alguns anos mais tarde em 1992 fui morar em Belo Horizonte e próximo do local em que eu trabalhava eu passava e ouvia o som de berimbaus. Um dia resolvi entrar e mesmo de terno e gravata me ofereceram um pandeiro que toquei junto com  Jauvert, André e Primo, bem passei a freqüentar o local e treinar regularmente a Capoeira Angola que era coordenada pelo Primo, mas participavam vários grandes e bons capoeiristas como Andréia, Edu, Alcione, os Ricardos, era o Grupo Iuna de Capoeira Angola, este grupo tinha sido fundado por Rogério Rasta que nessa época estava na Alemanha. Conheci a fina flor da capoeiragem de Beaga, o GCAP de Léo, Wiliann,  a FICA de Jurandir . O Joãzinho com sua academia no terraço da Rua da Bahia e sua roda. O Edson a Dra. Fafá. Aprendi os fundamentos da capoeira angola em Belo Horizonte e também foi lá que conheci Mestre Moraes.  Com quem desde 1997 passei a treinar desde que fui morar em na cidade do Salvador. Mestre Moraes é o responsável pela  idéia de uma formação integral na capoeira fundindo elementos místicos, rutualisticos, sociais, culturais e filosóficos. Não existe capoeira sem comprometimento isso Mestre Miguel já havia me ensinado, mas  é essencial   saber  o que estamos fazendo e porque estamos fazendo a capoeira nesse momento histórico qual seu significado. O Grupo de Capoeira Angola Pelourinho com que convivi era formado pelos seguintes capoeiras: Pepeu, Marcio, Ulugimi, Honorato, Neide, Verônica, Linda, Álvaro, Roberto, Marcos Rasta, Lenilton entre outros. Morei em no Salvador até 2003 quando retornei para o Rio Grande do Sul me fixei em Restinga Seca onde desenvolvi projeto com a comunidade remanescente de quilombo do São Miguel, Onde procuramos despertar o conhecimento e o interesse pela nossa historia em crianças e adolescentes da comunidade. Participei da tentativa de criação do núcleo do GCAP em Porto Alegre mas desde muito cedo identifiquei dificuldades para consolidar o projeto,  estive envolvido até o seu final.



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