sábado, 19 de abril de 2008

O Principe Custódio e o Batuque no Rio Grande do Sul

1. O Aspecto Histórico:

Com a chegada dos negros escravos, oriundos das várias regiões africanas, aportaram por aqui, várias etnias africanas - dentre elas a etnia Nagô.

Originariamente, os Nagôs eram mais concentrados na região denominada Daomei, hoje Reino de Benin, cujo Rei (Oba) chama-se Osanlelê III (carinhosamente conhecido no meio antropológico por Vô).

Com o advento da invasão inglesa, no início do século passado, aqui chegou um Príncipe chamado Osanlelê do Sapatá Erupê, que para evitar o derrramamento do sangue de seu povo, fez um acordo com a coroa inglesa de auto exilar-se. Em troca, a coroa britânica manteria sua família e a sua côrte no exílio.

O local escolhido pelo Príncipe Custódio Joaquim de Almeida foi o Brasil, especificamente o Rio Grande do Sul, aportando em Rio Grande, após Pelotas e finalmente radicando-se em Porto Alegre, na rua Lopo Gonçalves, bairro Cidade Baixa. Levando uma intensa vida social, política e religiosa. Ainda hoje é possível o contato pessoal com uma descendente direta do Príncipe Custódio, sua neta, Princesa Serafina e seus filhos.

Esse breve relato exemplifica a peculiriadade da colonização gaúcha pelos negros, bem diferenciada do restante do país, pois aqui a grande maioria dos negros cativos eram oriundos da nobreza ou guerreiros.

Os Nagôs sofreram uma miscigenação étnica muito acentuada devido não serem um povo dado às lides da guerra, e sim da cultura. Eram habilidosos artesãos, políticos experientes dado às várias invasões que sofreram em sua terra natal mesmo antes da invasão inglesa, quando por várias vezes foram praticamente dizimados e os poucos que sobravam eram obrigados a migrarem pela África e países vizinhos para com isso, absorverem outras culturas e daí sempre ressurgindo um povo mais culto e a cada migração miscigenado com outras culturas étnicas.

2. O Aspecto Religioso:

No aspecto religioso o povo Nagô ainda observa a herança cultural da ancestralidade africana, principalmente no tocante aos vários rituais praticados. Especificamente no Templo de Umbanda Nagô Reino dos Orixás, esta diversidade é mais observada. Haja visto que neste ritual é o Exú (Exú-Bará) o elo de ligação dos homens com os Orixás. Em outros rituais, Oiós; Bantos; Cabindas; Gegê; Jexás e outros, inclusive outras ramificações Nagôs, o Exú abre os caminhos para que os Orixás cheguem no mundo e atendam os homens.

3. Os Orixás:

Os Orixás africanos em sua terra ancestral eram cultuados em número aproximado de 650 divindades, todos eles caracterizam-se por feitos excepcionais em suas diversas regiões de origem e sempre ligados ao aspecto telúrico. Hoje cultuam-se no Brasil, basicamente oito Orixás dos sessenta e poucos trazidos pelos negros ancestrais.

4. Os Orixás mais cultuados no Ritual Nagô:



Oxalá: o filho de Olurum (Deus).

Oxosse: senhor das matas, sincretizado com São Sebastião.

Ogum: senhor das armas e das guerrass, sincretizado com São Jorge.

Xangô: senhor da justiça, sincretizado com São Gerônimo.

Ibeji: o aspecto infantil, sincretizado com São Cosme e São Damião.

Exú-Bará: o plano terreno, o aspecto da rua, sem sincretismo.

Iemanjá: deusa das águas salgadas, sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes.

Oxum: deusa dos rios e cachoeiras, sincretizada com Nossa Senhora da Conceição.

Iansã: deusa dos ventos e das tempestades, sincretizada com Santa Bárbara.

Xangô Orixá de Nagô: filho de Inaminã, sem sincretismo.

5. Considerações Finais

Para concluir este breve trabalho, que mostrou uma pequena parcela da riqueza dos cultos Afro-brasileiros quero declarar que concentrei a pesquisa na nação Nagô, devido ao fato de que é nesta nação que nasci e fui criada, de maneira tal que, a religiosidade passou a ser uma parte sagrada de mim e daqueles que são meus irmãos de fé.

Toda a minha família paterna, incluindo minha mãe, é devota da religião, salientado o fato de que meus pais, tios, avós paternos e uma prima são iniciados prontos, que dedicam, por livre e espontânea vontade, uma parte valiosa da vida à nossa religião.

Um Príncipe Negro em Porto Alegre
São João Batista de Ajudá era uma fortaleza portuguesa, no Daomé, outrora muito povoada por cristãos negros. Foi construída, por ordem do rei D. Pedro II, para proteger o importante comércio que então os portugueses faziam na Costa da Mina, território à beira do Oceano Atlântico, no golfo da Guiné. Daomé foi colônia de vários países, até que a Grã-Bretanha comprou a parte dos demais ocupantes, tornando Daomé inteiramente propriedade inglesa. Os ingleses, então, tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou na deportação de um rei africano. Com outros governantes, foram feitos acordos financeiros, por eles aceitos, a fim de evitar o massacre do seu povo. Entre estes, estava o príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina. Não se sabe por qual motivo o exilado escolheu o Brasil. Talvez por haver aqui grande número de descendentes de escravos nativos da Costa da Mina, os chamados pretos-mina. Inicialmente, fixou-se em Rio Grande e, mais tarde, foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa de seu povo, com a prática que hoje se conhece como batuque. De Bagé, mudou-se para Porto Alegre, adotou o nome Custódio Joaquim de Almeida e tornou-se um líder de sua raça. Rodeado pela nobreza, viveu muitos anos em Porto Alegre e conservou todos os hábitos de origem e os ritos da seita africana. Morto em 1936, aos 104 anos, com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes da capital gaúcha


Mercado Público é templo de religiões afro-brasileirasA história resolveu jogar uma pá de cal sobre Custódio Joaquim de Almeida, o primeiro negro a comandar o poder gaúcho nos bastidores. Manejando os membros mais ilustres de sua época, é um nome que sempre arrepiou os que escreveram a história branca do Estado. Depois de peregrinar em vão pela Bahia e Rio de Janeiro, os búzios indicaram ao príncipe exilado de sua terra, Benin — entre a Nigéria e o Togo —, pela coroa inglesa, o Rio Grande do Sul como uma espécie de terra prometida. Alcançou o porto de Rio Grande em 1864 e chegou a Porto Alegre no início do século passado. Circulou como um branco livre, em plena escravatura, pela corte rio-grandense, de braços dados com ilustres líderes políticos, de Júlio de Castilhos a Getúlio Vargas, que durante seu governo perseguiu os seguidores das religiões afro.
Custódio plantou o Bará, orixá que, segundo a tradição, abre e fecha os caminhos, em 7 pontos da capital gaúcha. Entre esses lugares estaria o Palácio Piratini e o Mercado Público, que trouxe a figura do príncipe negro de volta durante a reforma do prédio histórico, em 1993. O prédio é um lugar místico para os adeptos dos terreiros há mais de cem anos. Depois de ficar dias a fio deitados com a cabeça marcada pelo sangue de animais, o seguidor do Batuque levanta e vai ao Mercado cumprir o ritual do passeio. Na prática, há os que dizem que a figura do príncipe negro não passe de uma lenda; e os que procuram desenterrar uma história bem escondida. Morto aos 104 anos, em 1936, Custódio deixou um legado espiritual que tem pesado por mais de um século sobre o Rio Grande do Sul.




Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 2Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guiné e com as Ilhas de São Tomé e Príncipe cedendo as suas fortalezas. As condições para que o Príncipe de Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores, além pelo respeito à vida dos seus súditos, era a de que se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios. E, como parte do convênio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse, por intermédio dos seus representantes consulares.Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil, não se sabe. Talvez por haver aqui grande número de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina - os chamados "pretos-mina" - ou outra qualquer razão; sua chegada a nossa terra foi assinada com acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá. Inicialmente fixou-se em Rio Grande mais tarde foi para o interior de Bagé onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa do seu povo - com a prática do que agora se conhece como Batuque - além de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da nossa flora medicinal, atendendo muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.De Bagé mudou-se para Porto Alegre onde chegou em 1901 com 70 anos de idade. Foi morar na Rua Lopo Gonçalves, nº498, cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos(hoje Joaquim Nabuco), mas logo que o príncipe que havia adotado o nome brasileiro de Custódio Joaquim de Almeida - ali se instalou, passou a rua a ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se do homem que incontestavelmente, era um líder de sua raça.O príncipe Custódio - como então era chamado - iniciou-se ali uma nova etapa de sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno de um verdadeiro fidalgo.A família do príncipe de Ajudá aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o número de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.Os fundos da casa onde morava - com saída à Rua dos Venezianos (Joaquim Nabuco, hoje) - servia para a sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove cavalos de raça - alguns importados da Inglaterra - os quais todos os domingos disputavam corridas. Para manter e cuidar esses animais havia um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão direta do príncipe, que se classificava como "tratador". O príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres (atualmente ainda estão vivos um homem - Dionísio Joaquim Almeida, funcionário aposentado da EBCT - em Porto Alegre, e duas senhoras, uma residindo no Rio de Janeiro e outra em São Paulo) e para esses oito filhos, quando pequenos, mantinha quatro empregados, um para cada dois.

Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 3Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porém podia expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado. As festas a que levava a efeito periodicamente em sua casa - notadamente na data de seu aniversário - duravam três dias com a casa sempre cheia de gente, da manhã à noite, se comia e se bebia do bom e do melhor ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. E nesses dias o príncipe recebia a visita da gente mais ilustre da cidade, inclusive do presidente do Estado, Borges de Medeiros que, conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa. Naquelas festividades era certo o comparecimento de senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, além de capitães da indústria e comércio que dele precisavam o apoio para o perigo de greves e outras imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa, especialmente para aquelas ocasiões especiais, embora elas nunca faltassem a mesas do príncipe exilado. A casa do príncipe vivia sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava nas ruas e lhe pediam auxílio. Mandava essas pessoas embarcarem na carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência onde sempre havia lugar para mais um . Todos ali ficavam até que quisessem ir embora. Entre os que viveram muito tempo junto ao príncipe estava um branco, desdente de alemães oriundo de São Sebastião do Caí, que tinha feito estudos de medicina e dessa maneira o auxiliava no atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca dos remédios e dos "trabalhos" do chefe africano exilado.Para os rigores do inverno o príncipe Custódio adotou o poncho gaúcho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua personalidade, não o deixando nem quando visitava o Palácio Piratini onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom atendimento, e onde ele muitas vezes usava o seu prestígio para conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro de sua comunidade.Durante todos os anos em que viveu em Porto Alegre - 31 ao todo - nunca manteve correspondência ostensiva com parentes ou amigos deixados em terras africanas. De lá recebia informações e daqui envia notícias suas em mãos por intermédio de marítimos que tripulavam vapores vindos à nossa metrópole transportando e levando mercadorias. Também nunca se soube o teor dessas correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião não era. Pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Além disso, a Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico local entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam àqueles que o procuravam nos momentos de aperturas financeiras.

Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 4No verão, em janeiro, o programa era conhecido. Ia todo mundo para a casa de propriedade de Custódio Joaquim de Almeida, na Praia de Cidreira. A viagem para o velho balneário era qualquer coisa de sensacional e folclórico. Embora fosse dono de carruagem e tivesse dinheiro para alugar quantas diligências quisesse, o príncipe gostava de viajar em carretas puxadas por bois na maior calma e na mais incrível lentidão. E ainda mais: a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de Porto Alegre à Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e tratador, fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa já viu foi quando Custódio completou cem anos de idade. Nesse dia muita gente "bem" foi abraçá-lo em sua casa, e ele, dando demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber qualquer ajuda. Aliás, isto ele fez até poucos dias antes de sua morte, quatro anos depois.No dia 26 de maio de 1936 morreu o príncipe Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos "trabalhos", em intenção do morto.Com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes e esquisitas da nossa cidade, e muita gente ficou desamparada, pois a subvenção paga mensalmente em libras pelo governo inglês extinguiu-se com a morte do príncipe de Ajudá.
A Religião Africanista no Brasil Os africanos trouxeram consigo as suas culturas originais e, junto a elas, todo um corpo de crenças e rituais religiosos.Atualmente as religiões africanas afirmam sua sobrevivência de maneira flagrante do norte até o sul do país. Tais religiões sobrevivem graças ao sincretismo entre elas próprias, entre elas e o catolicismo (religião dominante), e entre elas e o espiritismo. Esta mistura de crenças e rituais é tão evidente que já não dizemos no Brasil religiões "africanas" e sim religiões "afro-brasileiras".
O continente africano pode ser dividido em duas partes, cortando á altura do Golfo da Guiné. Dessa linha para cima, as culturas negras são chamadas sudanesas e desse paralelo para baixo, chamados de bantos.Dos negros sudaneses, as culturas que mais pesaram no Brasil foram a nagô e a gêge, provenientes da Nigéria e do Daomé respectivamente. Coube à cultura nagô (iorubana) a hegemonia em todo o Brasil, de norte a Sul.
Já na África, essas e outras culturas influíam-se reciprocamente. Com o périplo africano realizado pelos navegadores portugueses, chegaram às costas africanas as "missões", as crenças e rituais cristãos, especialmente católicos, que deram origem ao sincretismo com os cultos negros.
Este fenômeno foi muito acentuado no Brasil, devido à promiscuidade das senzalas, onde negros de diversas culturas conviviam lado a lado, favorecendo o sincretismo entre as próprias religiões africanas trazidas para cá. Depois, por ser o catolicismo a religião oficial durante o período colonial e imperial (1500 a 1889), as manifestações exteriores das demais religiões, inclusive as práticas mais primitivas dos negros, foram comprimidas pela Igreja. Este fato veio a possibilitar aos negros a manutenção dos cultos e rituais que, por um mecanismo de defesa, avivaram cada vez mais, em extensão e profundidade, o sincretismo de suas crenças com as da Igreja, mascarando seus deuses com os nomes de santos católicos. Com tal subterfúgio respeitavam a lei, a Igreja, e continuavam cultuando seus deuses africanos. Este processo de identificação entre os orixás (divindades) e os santos católicos foi facilitado objetivamente por semelhanças de "especialização", semelhan- ças "profissionais" entre eles. Tais como Xangô sincretizado com São Jerônimo, Iansã com Santa Bárbara, Ogum com São Jorge e assim por diante.
Entre os sudaneses se cultuavam os orixás (entidades sobrenaturais, intermediários entre os homens e Olorun, o deus maior e superior a todos), já entre os bantos do Sul se veneram os espíritos ancestrais, de pessoas humanas que viveram efetivamente.
Em Benguela, Angola, sabe-se que existia o culto "orodere", semelhante ao chamado "espiritismo", por isso também foi fácil aos negros de origem banto amoldarem-se às práticas espíritas que se desenvolveram no Brasil. Dessa diferença entre os cultos sudaneses e bantos derivou uma diferença nas religiões afro-brasileiras. De um lado temos o Xangô em Pernambuco, o Candomblé na Bahia e o Batuque no Rio grande do Sul, todos eles com origem sudanesa, estas diversas designações são apenas rótulos regionais para um mesmo conteúdo.
De outro lado, por parte das culturas bantas a mercê de um grande sincretismo, nasceram todas as casas chamadas de "umbanda", criando no Brasil uma nova religião, nas quais são cultuados, além de orixás, espíritos ancestrais, os "espíritos-guias", assim denominados por influência espírita.No Brasil as misturas se acentuaram juntou-se também, as tradições e as crenças dos nativos americanos, este sincretismo das religiões negras com elementos das culturas indígenas deu origem a um novo tipo de culto: o "candomblé de caboclo", onde são cultuados os orixás africanos juntamente com os deuses indígenas.
Nos cultos sudaneses são usados línguas africanas, principalmente o nagô e o gêge. Já nas casas de umbanda e caboclo, domina o português, misturado a palavras africanas e expressões em tupi.



A Influência negra no Rio Grande do SulO negro aparece no Rio Grande do Sul em 1725, com a frota de João Magalhães, vinda por terra. Estes negros, certamente escravos, realizavam o serviço pesado. Porém oficialmente a presença negra, no território gaúcho, data de 1737, quando o Brigadeiro José da Silva Paes se estabelece na Barra erigindo o Presídio Jesus, Maria e José, marco inicial da nossa colonização. Durante muitos anos esta região, distante e hostil, denominada Continente, foi usada como ameaça contra os escravos rebeldes ou preguiçosos do centro do Brasil, sendo estes enviados para este local, considerado por eles como pior que o inferno, um autêntico degredo na solidão verde do pampa.
Assim deu-se o inicio da colonização negra no Rio Grande do Sul, estendendo para o Prata clandestinamente. O negro marcou sua presença, indelevelmente, na História, na Geografia, no folclore, no linguajar, nas artes, no esporte e na política.Na historia, há uma notável participação dos negros durante a Guerra dos Farrapos e na Guerra do Paraguai, nesta ultima lutaram substituindo o sinhozinho branco e que, após a vitória, se recusaram a voltar para o Rio Grande.
Na Geografia são muitos os topônimos de origem negra no mapa gaúcho, inclusive alguns com o nome de quilombos.No folclore, algumas lendas falam de escravos entre nós: As Torres Malditas, Cambai, Santa Josefa e o Negrinho do Pastoreio.No linguajar, são correntes termos como: caiambola, cacimba, mondongo, mocotó.Nas artes são inúmeras as influências de elementos negros, como o maior tambor brasileiro atualmente, o "sopapo". Artistas negros marcaram a cultura brasileira como Lupicínio Rodrigues, e o ator Breno Mello, o inesquecível Orfeu Negro do cinema.No esporte bastaria a simples menção ao nome do tricampeão Everaldo e, antes dele, o grande Tesourinha, entre muitos outros mais recentes.Na política, o grande nome é do Deputado Carlos Santos, de notável atuação parlamentar durante um quarto de século.Na culinária gaúcha brasileira, três pratos têm etiologia negra: o mocotó, a feijoada e o quibebe.
Mas é na religiosidade popular que se encontra a cultura negra mais decisivamente. Desde o século passado, nota-se a existência de cultos negros em Porto Alegre com terreiros de batuque, que se proliferaram e hoje somam mais de 50.000 casas de Batuque em todo o Estado.
Essência e Estrutura do Batuque Originalmente os negros, de maneira geral, acreditavam em uma divindade única, superior a todos os outros seres sobrenaturais, seus subordinados. A esse deus superior, usando a expressão nagô, chamavam Olorum, divindade cultuada como senhor de todas as coisas, o princípio de tudo, o Deus criador do mundo e dos Orixás, estes seus intermediários em relação aos homens: são os orixás, que atendem cada um a funções especificadas.
Olorum - ás vezes chamado de Olodumaré, Olerum ou Lorum, não tem representação objetiva e não participa diretamente das Obrigações Religiosas, o não possui filhos na Terra, por isso não se manifesta através da ocupação, não têm culto específico, não exige oferendas específicas está acima destas necessidades. Esta características específicas de Olorum beneficia a valorização dos orixás, também chamados "santos" por influência do catolicismo.
Os afro-brasileiros vivem um processo de politeização. Se juntarmos a politeização a tendência para representar suas divindades sob formas humanas, mais a utilização de fetiches, chegaremos a um fetichismo politeísta antropomórfico como atual estágio.
Obrigações 1. Quinzenas:
As quinzenas são obrigações menores que duram normalmente dois ou três dias - a matança e o toque (Batuque) - é freqüentado por um número não muito grande de pessoas e geralmente estão associadas a alguma data comemorativa ou a obrigação de bori de filhos-de-santo do Ilê. Há o toque dos erís dos Orixás, as comidas-de-santo são ofertadas aos orixás e as tradicionais comidas servidas ao povo: canja, canjica branca e amarela, amalá. Por ser uma obrigação menor, exige um mínimo de aves a serem sacrificadas, cujo axorô e inhélas são ofertadas aos orixás. A carne das aves é consumida nos intervalos do toque do tambor, servida enfarofada ou na canja, comidas tradicionalmente ofertadas as pessoas que comparecem ao ebó. Há ainda as "quinzenas secas", quando não há sacrifício de animais. Os alimentos servidos ao povo são basicamente doces.Sendo as quinzenas obrigações menores, constituem em excelente oportunidade para a aprendizagem dos fundamentos do Batuque, dos Erís e da organização do Ebó.
2. Os Orixás Vão Para a Guerra:
realizada no período na semana santa, não ligada ao catolicismo, mas um período em que o mundo entra em luto pela crença católica. Por estar em luto a humanidade fica fragilizada e desprotegida, então se faz nos terreiros a obrigação de mandar os santos para guerra, Arriam-se novas oferendas, além de doces e flores em sinal de agradecimento e alegria pela volta dos Orixás, e pelo término do período de luto.Geralmente acontece na quinta-feira santa á noite, os orixás que costumeiramente chegam, manifestam-se em seus filhos-de-cabeça, perto da porta da entrada do Ilê e com uma expressão mais pesada, com feições mais sérias, como se estivessem tristes. Recebem no Quarto-de-Santo um saquinho de tecido contendo grãos que simbolizam o axé e o alimento que serão necessários na guerra. Levam também todos os axés que estiverem arriados no Quarto-de-Santo, este permanecendo vazio até o sábado de aleluia em sinal de luto.No sábado de aleluia, entorno dás 10:00 horas da manhã, abre-se o Quarto-de-Santo, o tamboreiro toca os Erís e os Orixás que foram para a guerra manisfestam-se novamente, simbolizando a chegada da guerra. São recepcionados com muita alegria, pois o período de guerra e de luto foi superado. Arriam-se novas oferendas, alem de doces e flores em sinal de agradecimento e alegria pela volta dos Orixás, e pelo término do período de luto.
3. A Entrega do Ano:
Na concepção batuqueira, cada ano é regido por um orixá que é acompanhado por outros orixás. A determinação de qual orixá irá reger o ano é dada através do Jogo de Búzios. Esta limpeza é diferente das demais limpezas feitas durante o ano, pois é realizada com o axé de todos os orixás, mais 07 varas de marmelo. (que pertencem a Ogum, para cortar as demandas), a vassoura de Xapanã (de palha ou com 07 cores de tecido, para varrer as mazelas e feitiçarias) e com 01 ave do orixá que está entregando o ano. É feita à marcação dos que fizeram a limpeza e segurança amarrando-se ao pulso ou tornozelo um molho de linhas com as cores de todos os orixás, o que significa que o indivíduo está puro e seguro para enfrentar o ano que vai vir. Esta Limpeza é feita também nas pessoas comuns que freqüentam o Ilê.Depois da Limpeza é feito o océ nos Orixás, limpeza das ferramentas, dos ocutás e de tudo o que pertencem aos Orixás. E finalmente é realizado o toque em homenagem aos Orixás que estão entregando o ano e aos orixás que irão reger o próximo. A água contida nas quartinhas dos Orixás são despachadas e trocadas por uma nova água, o que simboliza a renovação do axé. É uma obrigação com caráter festivo, porém não deixa de ter seu caráter religioso.
O Batuque Grande A seguir serão descritas as etapas que compõe um ebó, ou seja, o Batuque Grande. Esta obrigação acontece pelo menos uma vez ao ano em cada Ilê e tem duração média de 10 a 16 dias, podendo estender-se até em 32 dias ou mais, conforme a organização, a necessidade e a disponibilidade de cada Ilê. É quando se dá o aprontamento dos filhos-de-santo, são entregues os axés de Obés e Ifá, é dado o axé de fala aos Orixás e quando comemora-se o aniversário de assentamento dos Orixás de cabeça daqueles que se aprontaram nos ano anteriores.
No Ilê Oxum Docô, por ser um Ilê com grande número de filhos e adeptos, realizamos dois grandes ebós durante o ano: em Abril, quando é comemorado o Aniversário de Viviane de Iansã e em Maio em homenagem ao aniversário de assentamento de Oxum Docô, de Pedro da Oxum. Nestas obrigações os demais filhos prontos também homenageiam seus orixás, e são realizados Boris e aprontes.
As etapas de um ebó podem variar de casa para casa, porém iremos descrever como acontece no Ilê Oxum Docô, pois foi assim que o Babalorixá Pedro de Oxum Docô aprendeu de seu Babá e é assim que transmite aos seus filhos-de-santo, com a intenção de perpetuar os fundamentos e ensinamentos da Nação Gêge-Ijexá ao qual pertencem.

01. Serão ou Corte aos OrixásA Religião Africanista é em seus fundamentos voltada para o passado, mantém até hoje ensinamentos e preceitos, desde o tempo mais remoto, do negro na África e chegou até nós através dos escravos. Sobreviveu a todos os períodos de opressão e perseguição. Daí a enorme importância da obrigação de corte aos Orixás, pois é a preservação da cultura que ao mesmo tempo em que ofertava certos sacrifícios aos Orixás alimentava seu povo com a carne do sagrado. Depois adiantando na linha do tempo, entramos nas casas comuns e nos terreiros em que os animais andavam soltos no pátio e serviam para a subsistência familiar, ainda não existia as facilidades que hoje são disponíveis nos supermercados. Nos Ilês Balança Vão ao Quarto-de-santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís dançados unicamente pelos orixás de frente. Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer a um dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança Axé dos Presentes enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia do Ilê, etc. É neste momento o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos os presentes recebidos. Levantação , limpá-las e guardá-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos Passeio Saindo do Ilê vão até o centro da cidade visitar lugares de grande significado para a comunidade. O serão ocorre geralmente na quinta-feira á noite, começa entorno dás 20:00 horas e estende-se muitas vezes até a madrugada, das obrigações de bori e de apronte que serão feitas.
No serão são imolados animais quadrúpedes (aos quais chamamos vulgarmente de quatro-pés) e de aves. As oferendas feitas aos Orixás são de origem animal assim como vegetal (folhas, plantas, grãos) e mineral: os ocutás, a água, etc. Os animais são ofertados os Orixás com o intuito de fortalecer o axé do Orixá assim como a mente e espírito do filho-de-santo através do axorô (sangue do animal) e das inhélas, certas partes dos animais que serão fritas e arriadas no Quarto-de-santo (cabeça, pés, testículo no caso dos quatro-pés e cabeça, pés, pontas das asas, do pescoço e da sambiqueira, pulmões e testículos das aves).A carne dos animais imolados serão preparados em forma de canja, de amalá, assados, enfarinhados e consumido pelo povo durante o período de obrigação e pelas pessoas que comparecerem ao toque, Batuque. Os couros retirados dos animais, depois de preparados são utilizados na confecção dos tambores, instrumentos tocados durante o Batuque. Nada é desperdiçado, por exemplo, no Ilê Oxum Docô é grande o número de animais imolados, devido ao grande número de filhos que o Ilê tem, quando não é consumida a totalidade de carne e de comida preparada, o restante é doada a entidades carentes nas proximidades do Ilê.
02. Preparação do ToqueNo dia posterior ao corte, permanecem alguns filhos-de-santo no Ilê para preparem em todos os detalhes o toque que irá acontecer no sábado. As principais atividades acontecem na cozinha, considerada a parte mais importante do Ilê, depois do Quarto-de-santo. É necessário que um filho-de-santo, mais experiente e de extrema confiança do Babalorixá auxilie na organização de tudo que deve ser feito, pois os afazeres são muitos e o tempo escasso. Além de todas as comidas-de-santo, devem ser feitas comidas tradicionalmente sagradas e significativas que serão servidas ás visitas que são esperadas mais tarde no toque.
Com as aves preparam-se: canja, galinha assada, galinha enfarofada. Com a carne do carneiro faz-se o amalá, comida consagrada ao Orixá Xangô: A carne cozida e desfiada é agregada ao molho com folhas de mostarda picada, servido com pirão de farinha de mandioca. Os cabritos e porcos são assados e servidos em pedaços. Faz-se também canjica de milho branca e amarela, além de uma grande variedade de doces como: sagu, pudim, ambrosia, quindim, docinhos, etc... Para beber serve-se o atã, bebida típica do Orixá Ogum, feita com frutas minusculamente cortadas, misturadas com guaraná e xarope de groselha.Os miúdos dos quatro-pés é cozido e picado de forma bem miúda para se fazer o sarrabulho, uma espécie de farofa temperada com cheiro verde, cebola e os miúdos picados. As filhas de Iansã, ajudadas por outros irmãos fazem o acarajé, comida consagrada ao seu Orixá de cabeça. Havendo disponibilidade faz-se ainda os bolos que serão ofertados pela ocasião do aniversário de assentamento dos Orixás.A preparação do toque segue com a arrumação do Quarto-de-santo que deve ter: flores, perfumes, as comidas-de-santo, atã, pelo menos uma porção de cada comida que está sendo feita para o povo, frutas, balas enroladas em papéis coloridos, os bolos de aniversário. Além das inhélas e das vasilhas contendo as obrigações e de outros fetiches religiosos. Há ainda a arrumação do salão, onde acontece o toque, e das demais dependências do Ilê que depois da limpeza são organizadas para melhor receber os convidados, Babalorixás e Yalorixás que juntamente com seus filhos-de-santo vêm prestigiar a obrigação.

03. O MercadoTambém faz parte da preparação para o toque a confecção dos mercados que serão distribuídos no final do Batuque.O significado e a explicação desta denominação perdeu-se nos tempos, porém seu significado religioso continua forte.Os mercados são pacotes onde se colocam as comidas-de-santo para serem ofertados ás visitas simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e fraternidade a todos os lares e Ilês.
O axé obrigatoriamente deve ser dividido entre os que compareceram ao toque, principalmente quando o ebó é de quatro-pés. Cada Ilê acondiciona o mercado da maneira que lhe convém: em bandejas, em pacotes, em caixas de papelão, etc, porém o que não muda muito é o conteúdo do mercado.
O mercado deve conter: pedaços de carne de cabrito assada, frutas, bolo, axoxô (milho cozido, pertence á Obá), pipoca (pertence á Bará), batata doce frita em rodelas ou acarajé (pertence á Iansã), doces - quindim, docinhos, balas (pertence á Oxum), farofa de Xapanã (farinha de mandioca pilada com amendoim e açúcar). No final do toque também são distribuídos, bolos, carnes, frutas.
O babalorixá, muitas vezes presenteia os Babalorixás e Yalorixás que estão de visita com flores do Quarto-de-Santo, para que sejam colocadas em seus Quarto-de-santo, como sinal de agradecimento pelo comparecimento no ebó. Caso ainda sobre alguma comida ou fruta, deve ser doado a pessoas carentes ou instituições de caridade.
04. O ToqueO toque geralmente inicia ás 23:00 horas, quando todos os filhos-de-santo devem estar presentes e devidamente trajados de seus axós, para auxiliar o Babalorixá ou Yalorixá a recepcionar os visitantes. O início do toque se dá com a chamada: todos em silêncio, ajoelham-se, enquanto o Babalorixá em frente ao Quarto-de-santo, tocando o adjá (espécie de sineta) saúda a todos os Orixás, de Bará a Oxalá, fazendo pedidos de abertura, de paz, saúde e prosperidade a todos os presentes. Os filhos-de-santo respondem com a saudação específica de cada Orixá.
Os alabês (tamboreiros), "puxam" os erís, isto é tocam os tambores enquanto entoam os erís, para que os presentes respondam, e a roda se forma no centro do salão, movimentando-se no sentido anti-horário. Os erís têm coreografias adequadas a cada orixá ou a cada "passagem", (relação da reza com alguma história daquele orixá), por exemplo: nos erís do Orixá Ogum ora dança-se simulando com as mãos o trabalho do ferreiro na forja, ora dança-se simulando a utilização de uma lança, relacionando com Ogum guerreiro.
Todos podem fazer parte da roda, adultos, crianças, iniciados e prontos, porém alguns detalhes devem ser observados. Participam da roda pessoas que estejam de axó (calça comprida para os homens, e no mínimo saia para as mulheres, desde que não seja curta), mulheres em período menstrual não participam do Batuque, mas podem auxiliar na manutenção, na limpeza e na recepção dos convidados. As pessoas que estiverem de luto também não podem participar do ebó, ficando somente na assistência.
Os Orixás que "chegam" usam o centro da roda para dançarem e darem os seus axés, com exceção dos orixás "velhos" que são encaminhados a sentarem-se nos banquinhos a eles destinados. Os erís seguem a hierarquia dos Orixás, sendo de responsabilidade do alabê a exatidão dos erís assim como a ordem dos acontecimentos no decorrer do toque.
Acompanhe a seqüência de tais acontecimentos, segundo a Nação Gêge-Ijexá:
04. O Toque4.1. Balança ou Roda-de-Prontos: Chama-se balança ou cassum em homenagem a Xangô e também por conter o axé de todos os orixás em equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive os orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da balança.
Só há balança quando há ebó de quatro-pés, que é constituída exclusivamente por pessoas prontas na religião, que já tenham feito ao menos bori de quatro-pés, no mínimo 06 pessoas (conta de Xangô) podendo ser em número múltiplo de 06: 12, 18, 24, 32. Caso o número de prontos seja excedente, por ser feito mais de uma balança, aí então costuma-se fazer uma balança com pessoas de orixá de frente e uma balança com o povo de praia. Os participantes colocados lado a lado, formando uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações ao mesmo tempo, sendo somente de orixás jovens (Oxum, Iemanjá e Oxalá velhos só podem chegar depois do início dos erís de Oxum). Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: Vão ao Quarto-de-santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís destinados unicamente pelos orixás de frente. Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer por dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô (Baixe o som em mp3). Por causa desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes.
04. O Toque4.2 Alujá de Xangô e Alujá de IansãLogo após a Balança os Orixás que estão no "mundo" dançam o Alujá do Xangô e o Alujá de Iansã, respectivamente, ritmos do tambor, característicos destes Orixás. Os orixás jovens dançam em frente ao "pagodô" local mais elevado (espécie de palco) onde ficam os alabês. Durante o alujá é contagiante o axé e a empolgação com que os orixás dançam, proporcionando um momento de rara beleza.
4.3 A Saída do EcóTerminado os Erís de Obá é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar com água, farinha de mandioca e gotas de epô - azeite de dendê) e do ecó de Oxum (Vasilha de vidro com farinha de milho, água, mel e perfume e flores).
A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes prepara o ambiente para os erís dos Orixás de praia, que tem um toque mais brando. Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que agora puxam os erís dos orixás da rua - Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá - não há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali contida.
04. O Toque4.4 Roda de Ibedji No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibedjis, no Gêge-Ijexá ela acontece durante os erís de Oxum. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na roda e na assistência, as frutas, os doces - quindins, merengues, cocadas, bolos - que estão no Quarto-de-santo.
4.5 Axé dos PerfumesSendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há um momento especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de perfumes, leques e espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e espelhos enquanto outras se banham com perfume e distribuem um axé perfumado as pessoas que estão na roda e na assistência. Este axé faz uma referência sobre a "passagem" em que Oxum está no rio banhando-se, num ritual de beleza e encantamento.

04. O Toque4.6 Axés dos PresentesGeralmente acontece quase no final do Batuque, os orixás que estão aniversariando "apresentam" seus bolos, tantos os orixás quanto os filhos-de-santo que não se ocupam, mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento do orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolo são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados.São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ilê, etc. É neste momento que o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos o presente recebido.
4.7 O Axé do Alá de Oxalá Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos-de-santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco. Enquanto a roda e os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo ao orixá do branco a paz e a proteção.

04. O Toque4.8 O Aforiba ou a Dança do AtãO aforiba é o momento em que Ogum e Iansã demonstram a passagem em que Iansã embebeda Ogum para fugir com Xangô. O Babalorixá convida um Ogum e uma Iansã para fazerem o Aforiba, então ela coloca no centro do salão duas garrafas contendo atã (aforiba) e as armas pertencentes a estes orixás (espadas). Iansã toma as garrafas e oferece á Ogum que logo se embebeda, mas em seguida Ogum volta a si e vai atrás de Iansã empunhando sua espada. Os dois lutam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os dois reconciliam-se e voltam a dançar juntos. Tendo um Xangô no mundo poderá vir ele fazer parte do Aforiba. Xangô vem em defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes entra na luta com Ogum. Aí então, Iansã acalma os dois Orixás. 4.9 Os Axêres
Conforme o Batuque vai acontecendo, os orixás chegam (ocupam-se da consciência e do corpo de seus filhos) e fazem o fundamento da religião, conforme o ensinamento do Babalorixá e da Yalorixá. Feita a obrigação os Orixás "sobem", vão embora. Os orixás são despachados, geralmente por filhos-de-santo mais antigos e experientes do Ilê, porém eles ficam em "axêre" ou "axêro" (No Candomblé são chamados de Erês), estado intermediário entre a ocupação do orixá e da pessoa propriamente dita. Os axêres agem como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras com as pessoas, pois seu linguajar é confuso, trocam as expressões como, por exemplo: "tigue" (tigre) quer dizer carro, "confeitaria" quer dizer bolo, "pouco" quer dizer muito, "feinho" quer dizer bonito, e assim por diante. È um momento de descontração, porém deve ser mantido o respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a essência do orixá.
04. O Toque4.10 A Levantação da ObrigaçãoTerminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam arriadas, limpa-las e guarda-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, as obrigações são guardadas no Quarto-de-santo e ocultas por cortinas que geralmente tem á sua frente imagens católicas que se referem ao sincretismo religioso, assim como velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados pertencentes aos Orixás.
05. O PeixeA obrigação do peixe é feita pela manhã bem cedinho, e só ocorre em festas grandes, com quatro-pés. Alguém encarregado deve ir ao rio ou ao mercado público e trazer peixes ainda vivos para serem imolados aos Orixás, de Bará á Oxalá, por isso não pode ser uma quantidade muito pequena. Os orixás de frente recebem pintado como obrigação e os Orixás de praia recebem jundiá. No Quarto-de-santo são imolados ao menos um peixe para cada orixá e a ele é destinado: a cabeça, as barbatanas, a cauda e um pouco de axorô (sangue). A carne dos peixes imolados é servida com pirão (ebó) no almoço e deve ser consumida pelos presos (filhos que estão de Obrigação) e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade.
Uma quantidade maior de peixes é preparada frita para ser servida ao povo que comparecer ao batuque de encerramento ou no Toque do Peixe - toque realizado na noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos, além das comidas dos orixás.
05. Mesa de BenjiA obrigação da Mesa de Ibedji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero á doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São "tirados" erís de Bará, de Xangô e Oxum (que representam os Ibedji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibedji é riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza. Significa agradar e reverenciar aos orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e prosperidade.
Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-se 01 gamela de frutas, 01 gamela contendo amalá, flores, 01 quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes. As crianças participam em grupos de 06, 12...(números múltiplos de 06, a "conta" de Xangô), sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto. Servem-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, depois os doces e refrigerante. Após terem comido o que foi servido, são dados ás crianças uma colher de mel e um gole de água. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças. Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por orixás que tenham "chegado" na mesa e conduzidos a formarem uma roda ao som de erís de Xangô. São feitas quantas mesas forem necessárias para que todas as crianças presentes participem da Obrigação.
Encerrada a Mesa de Ibedji, os Orixás que chegaram durante e a Mesa de Ibedji, recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o Quarto-de-santo. Os brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram da Mesa.
07. Toque de EncerramentoÉ o toque que encerra as atividades públicas do Batuque Grande. Tem uma proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo corte do peixe e do corte de confirmação, quando são imoladas somente aves aos orixás.A cor dos axós é preferencialmente o branco e pode acontecer a Mesa de Ibedji antes do início do toque. É nesta noite que serão dados os axés de Obés e Ifá. Entre os alimentos servidos aos convidados prevalecem os doces, além da canja, da canjica e do amalá (este feito com carne de peito de gado). Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação do corte de confirmação.
08. O Passeio
O término da obrigação para os filhos-de-santo que estão presos por motivo de seu aprontamento ou por obrigação de Bori é o Passeio no dia posterior á Levantação, pela manhã, antes, porém o Babalorixá ou Yalorixá leva os presos até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem fora dos limites do Ilê.
É comum no centro de Porto Alegre reconhecermos um grupo de presos passeando juntamente com seu Babalorixá ou Yalorixá . Saindo do Ilê vão até o centro visitar lugares de grande significado para a comunidade batuqueira: A Igreja do Rosário construída com o trabalho do negro escravo ( antiga irmandade de negros) , o Mercado Público - lá compram cereais, grãos, e velas -, o Rio Guaíba ( que banha a cidade) - lá reverenciam Oxum e jogam moedas ao rio pedido prosperidade e fartura. Em seguida, vão visitar algum Ilê conhecido onde "batem cabeça" cumprimentando os Orixás do Ilê e lá depositam parte das compras feitas no mercado. De volta ao Ilê, batem cabeça no Quarto-de-santo e arriam o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá na nova condição de Filho-de-santo pronto, ou borido (conforme a obrigação realizada).
Nação CabindaPor Eduardo Cezimbra -fevereiro/2004
A nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.
Os Inkinces são para os Bantus o mesmo que os Orixás para os Yorubás, e o mesmo que Vodum para os Jêjes. Não se trata da mesma divindade, cada Inkince, Orixá ou Vodum possui identidade própria e culturas totalmente distintas. A linguagem ritual originou-se predominantemente das línguas Kimbundo e Kikongo; são línguas muito parecidas e ainda utilizadas atualmente. O Kimbundo é o segundo idioma nacional em Angola. O Kikongo, provém do Congo, sendo também falado em Angola.
Aqui no Rio Grande do Sul a raiz forte da Cabinda foi o Sr. Valdemar Antonio dos Santos, filho do Orixá Xangô Kamucá Baruálofina; sua primeira filha de santo foi a Sra. Madalena de Oxum.
Outros que se iniciaram pelas mãos de Valdemar de Xangô, e com sua morte passaram para as mãos de Mãe Madalena de Oxum foram: Pai Tati de Bará, Mãe Palmira de Oxum, Ramão de Ogum, Pai Mario de Ogum e Pai Nascimento de Sapata. Depois foram surgindo outros ícones da nação Cabinda, onde podemos citar Pai Romário de Oxalá, filho de santo de Mãe Madalena de Oxum; Mãe Olê de Xangô, mulher de Pai Tati de Bará; Pai Henrique de Oxum, enteado e filho de santo de Mãe Palmira de Oxum; Pai Adão de Bará, filho de santo de Pai Romário; Pai Cleon de Oxalá; Antonio Carlos de Xangô, alabê, teve sua iniciação pelas mãos de Pai Tati de Bará, Mãe Marlene de Oxum, filha de santo de Pai Romário; Hélio de Xangô, iniciado por Pai Adão de Bará; Pai Gabriel de Oxum, que foi um grande Babalorixá da Nação Cabinda, filho de santo de Romário de Oxalá; Enio de Oxum, também da casa de Pai Romário; Luiz vó da Oxum Docô, iniciado por Romário de Oxalá; Ydy de Oxum, iniciado por Henrique de Oxum, entre muitos outros que conservam, ainda, os fundamentos desta Nação tão importante nos rituais Africanos do Sul.
Os praticantes da Nação Cabinda também se valem dos rituais da Nação Ijexá, já que esta última é atualmente a modalidade ritual predominante aqui no Rio Grande do Sul; a diferença se dá basicamente no respeito à memória de seus ancestrais e a outros fatores como o início dos fundamentos da Nação Cabinda, que é justamente onde termina os das outras Nações: o cemitério.
O Orixá Xangô é considerado Rei desta nação, e é o dono dos Eguns, juntamente com Oyá e Xapanã; E o culto aos Eguns é tão forte que na maioria dos terreiros desta nação, se encontra o assentamento de Balé (culto aos Eguns); Os filhos de Oxum, Yemanja e Oxalá, podem entrar e sair de cemitérios quando necessário for, sem nenhum prejuízo a sua feitura, já nas outras nações estes só entram no cemitério em extrema necessidade; Se estiver acontecendo uma festa num terreiro de Cabinda, e se o Orixá Xangô, tendo recebido oferendas de quatro pés, e vier a falecer algum membro da casa ou da família religiosa, não ficará a obrigação prejudicada, conforme acontece nos outros terreiros, nos quais teriam que interromper toda a obrigação.
Os orixás cultuados na Nação Cabinda são os mesmos da Nação Ijexá acrescentando Bará elegba, oyá dirã e oyá timboá; Na maioria das vezes as oferendas também são iguais com pouca diferença como por exemplo a obrigação do peixe que na Cabinda oferecem Pintado a determinados Orixás, que no Ijexá damos Jundiá.
Nação JêjePor Eduardo Cezimbra - fevereiro/2004
Quando se fala em Nação Jêje, aqui no sul do Brasil, logo se lembra do Pai de Santo mais famoso desta nação que foi o Pai Joãozinho de Bará (Exu Bý), que sem dúvidas foi a maior expressão desta nação, famoso no Brasil e em outros países como Uruguai e Argentina. Ele era filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Aganju, a mais antiga mãe de santo da nação Jêje que se tem notícias aqui no Rio Grande do Sul. A primeira filha de santo de pai João foi a Sra. Vandina de Oxum e depois dela vieram outros importantes adeptos do Jêje que se tornaram Babalorixás ou Yalorixás feitos pela mão de Pai Joãozinho de Bará como a Tia Nica de Bará, Alzira de Xangô, Dêde de Oxum, tio Cristóvão de Oxum, tia Conceição (irmã de Cristóvão de Oxum), Valdomiro de Bará Lodê, muito respeitado e temido por todos, foi um dos maiores feiticeiros de que se teve conhecimento no Rio Grande do Sul; Cotinha de Xangô, Valina da Oyá, irmã de Vandina de Oxum; Pai Pirica de Xangô, Jurema de Xangô, tamboreira, Evinha de Xangô, também uma das melhores tamboreiras do sul; tia Licinha da Oyá, vó Aurora do Ogum, vó de Pirica de xangô; tia Eva de Bará, João vó da Oxum Docô, falecido em outubro de 2003; Rosália de Odé, Landa de Bará, Rení da Iansã, filha de criação do Pai João; Pequeno de Bará Lodê, esposo de reni de Oyá; Tia Tereza de Oxalá, filha carnal de Alzira de Xangô; tia Jaci de Yemanja; Valdir de Xangô, Mesquita de Xangô, Nadir de Ogum, Zé de Xangô, tio de Valdir de Xangô; Nelson de Xangô, Pai de Santo de Vinicios de Oxalá; Zé da Saia de Xangô, Ziza de Odé, Julieta de Odé, Patinha de Bará, Marta de Bará, famosa por sua vidência, também praticava Umbanda, as mulheres grávidas faziam filas para saber qual era o sexo do filho, quando a pessoa entrava em seu portão ela já sabia o que foi fazer em sua casa; Leda de Xangô, também famosa por seus feitos na Umbanda e vidente das melhores, tenho muitos agradecimentos a esta grande mãe de Santo; Santa de Yemanja, Catarina de Ogum, Tião de Bará, Elaine de Oxum, Cleusa de Oyá, Elza de Oxalá, morava no Rio de Janeiro, para onde Joãozinho de Bará viajava freqüentemente. A Nação de Jêje puro já deixou de existir a muito tempo, a maioria das casas praticam junto a nação Ijexá, cujas rezas e rituais são utilizadas por todas as casas de batuque do Rio grande do Sul e para os países onde o ritual africano, do sul, foi levado como Uruguai e Argentina. Nas festas de ritual Jêje as rezas não são na linguagem Yorubá e sim na linguagem Fon, e a dança é feita de par, as pessoas dançam de par uma de frente para o outra e alternam os lugares conforme muda o rítimo dos tambores. Os tambores usados para os rituais são parecidos com os tambores da Nação Ijexá, embora sejam em tamanhos bem menores e sempre tem que ser em número de dois tambores, um toca com dois Aquidavís e o outro faz a marcação com um só aquidavis, que são os famosos "pausinhos", erradamente usam-se o termo "Jêje de pausinhos', que na verdade são os Aquidavís usados para tirar o som dos tambores de Jêje, o acompanhamento é feito por um instrumento chamado Gãn; no ritual onde se tira rezas de Jêje não usa-se agê nem agogô. Joãozinho de Bará e Tia Licinha, sua irmã, tocavam Jêje juntos, dizem que era um dos melhores rituais quando esses dois se juntavam.
Joãozinho do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo, ensinava os filhos a tirar as rezas dos Orixás e a tocar tambor; ele ensinava os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os aquidavís, e com certeza logo aprendiam. Ele foi uma árvore que deu muitos frutos, eu diria que foi João de Bará no Jêje e Manoelzinho de Xapanã no Ijexá. Hoje há poucas casas que conseguem fazer o ritual Jêje, dá para citar a casa de pai Pirica e a do Tião do Bará, que também completam seus rituais com as rezas da nação Ijexá de linguagem Yorubá, mas são nestas duas casas que ainda se vê acontecer o ritual jêje-nagô à moda antiga. O que é chamado de nação Jêje é o ritual africano formado pelos povos fons vindo da região de Daomé, hoje Benin. Os povos Jêjes, chegados ao Brasil, em sua grande maioria se estabeleceram em São Luiz do Maranhão, onde ainda existe a Casa das Minas, Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), Rio de Janeiro e para o Rio Grande do Sul sabe-se que vieram alguns descendentes do Daomé, inclusive um príncipe. O Daomé foi colônia de diversos países , e quando passou a ser propriedade da Grã-Bretanha, os Ingleses tiveram que entrar em acordo com os Reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou a vinda de um príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina; este escolheu o Brasil, inicialmente fixou-se em Rio Grande e, mais tarde foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa Africana. De Bagé veio para Porto Alegre, adotou como nome Custódio Joaquim de Almeida, conhecido no meio religioso como Príncipe Cústódio. Seu ilê era freqüentado por figuras importantes da época, inclusive foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos adeptos do culto africano fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás.
O BatuquePor Eduardo Cezimbra - agosto/2003
A religião Afro-Brasileira, estabelecida no Estado do Rio Grande do Sul, no tocante à história de suas origens, não guardou uma fonte segura de informações, e o pouco que se tem guardado vem de opiniões do boca a boca de geração para geração, e as incertezas nas colocações de como eram os rituais antigos ainda estão contidos nos descendentes, que hoje pouco revelam os segredos e as histórias, acontecimentos religiosos que se posto à público só enriqueceriam o nosso aprendizado, exatamente por este motivo muitos sacerdotes tem maneiras diferentes de cultuar seus Orixás, há regras que ainda se segue sem mudança alguma, como é o caso da Balança quando há festa de quatro pés, da Obrigação do Atã, na terminação da festa, do Ecó para levar embora as cargas negativas, e outras obrigações mudam com o passar dos anos como por exemplo a feitura de um filho de Santo. Na antiga casa de religião do saudoso Paulino de Oxalá a feitura de um filho de santo começava com uma lavação de cabeça com o omieró, em seguida um aribibó, e após este fazia-se um Bori e sentava-se o Bará para aquele filho; este Bará recebia obrigações de quatro pés durante sete anos e só depois é que ele aprontava o filho com o assentamento do restante das obrigações. Pai Paulino de Oxalá, nasceu na cidade de Pelotas, no Estado do Rio Grande do Sul, e foi pronto na religião por uma escrava que veio de navio para o porto de Rio Grande e ali se estabeleceu, sua origem era da Nigéria (África), provavelmente este grupo de escravos tenha passado por outros estados no Brasil, mas se estabeleceram, graças a Deus, aqui no Rio Grande do Sul. Há muitos que pensam que o nosso batuque é filho direto do Candomblé praticado na Bahia, porém, em visita a uma casa de origem Ketu, de um respeitado Babalorixá chamado Albino de Paula, descendente direto de raízes africanas, e de pai Ademir de Iansã, Tata de Inkinsi pronto há muitos anos na nação Angola constata-se que nosso ritual é muito distante do Candomblé, o que mais nos aproxima é a linguagem yoruba, que também é usado no candomblé de Ketu, mas, mesmo com as adaptações que foram feitas pelos afros-descendentes que se estabeleceram em cada estado brasileiro, para poderem continuar cultuando seus Orixás, a diferença nos rituais são imensas, fazendo com que nosso ritual seja quase que único, de uma especialidade inigualável. Temos que dar mais valor a nossa cultura, procurar saber mais de nossa história religiosa e divulgar o nosso culto, fazer respeitar as raízes afro do nosso Rio Grande do Sul, e manter esta árvore viva.
Tenho sido enfático no tocante a preservação dos nossos rituais Africanos por que se nota que o batuque puro, fiel às raízes, vem perdendo espaço para chamada linha cruzada, o fato é que se facilitar surgirá uma mistura que não se saberá o que se está cultuando, há de ter uma separação para preservação da "ciência" na prática dos rituais, Umbanda é Umbanda, Quimbanda é Quimbanda e Nação Africana é outro ritual, seria melhor cultuar um de cada vez. As casas de religião tem autonomia para decidir sobre seus afazeres no culto de seus rituais, sem que haja interferências, o Pai ou Mãe de Santo exerce sua autoridade, mas com jeitinho as coisas acabam mudando; muitas vezes se aproxima da casa, novos filhos que já cultuam a umbanda e ou os exus, e os sacerdotes, procuram aprender as práticas rituais da umbanda e dos exus; o que não se pode é deixar um ritual tomar conta de outro, como já se vê em certos lugares, o melhor é cultuar um de cada vez, e todos os rituais serão preservados.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Projeto de lei - Regulamentação da capoeira

PROJETO DE LEI N° , DE 2008(Do Sr. Carlos Zarattini)Dispõe sobre a regulamentação daatividade de capoeira e dá outrasprovidências.O Congresso Nacional decreta:Art. 1º.É livre o exercício da atividade de capoeira em todoterritório nacional.Art. 2º. A atividade de capoeirista aplica-se a todas asmodalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança,cultura popular e música.Art. 3º. A capoeira, em todas as suas modalidades, édeclarada bem de natureza imaterial, na forma do art. 216 da ConstituiçãoFederal, devendo o Poder Executivo tomar as providências necessárias paraproceder ao seu registro e divulgação.Art. 4º. É livre a atividade de capoeira nas modalidades deesporte, luta, dança, cultura popular e música, devendo ser incentivadas eapoiadas pelas instituições públicas e privadas.Parágrafo único. A capoeira nas modalidades luta e esporteé considerada como atividade física e desportiva, podendo ser exercida na formalúdica, amadora e profissional.Art. 5º. Ficam reconhecidas como profissão as atividades de2capoeira nas modalidades luta e esporte.Parágrafo único. Ficam reconhecidos como Contramestre eMestre os profissionais com dez anos ou mais na profissão.Art. 6º. É privativo do capoeirista profissional:I – o desenvolvimento com crianças, jovem e adultos dasatividades esportivas e culturais que compõem a prática da capoeira emestabelecimentos de ensino e em academias;II – ministrar aulas e treinamento especializado em capoeirapara atletas de diferentes esportes, instituições ou academias;III – a instrução acerca dos princípios e regras inerentes àsmodalidades e estilos da capoeira;IV – a avaliação e a supervisão dos praticantes de capoeira;V – o acompanhamento e a supervisão de práticasdesportivas de capoeira e a apresentação de profissionais;VI – a elaboração de informes técnicos e científicos nasáreas de atividades físicas e do desporto ligados à capoeira.Art.7º. Fica a cargo do Poder Executivo a criação dosConselhos Federal e Regionais dos capoeiras.Art.8º. As unidades de ensino superior que ministrem cursosde graduação em Educação Física manterão em sua grade curricular a formaçãoem capoeira nas modalidades luta e esporte.Art.9º. As unidades de ensino fundamental e médiointegrarão em sua grade curricular a prática da capoeira nas modalidades de luta,dança, cultura popular e música.Art.10. Fica instituído o Dia Nacional da Capoeira e doCapoeirista a ser comemorado anualmente no dia 12 de setembro.Art.11. Compete aos órgãos públicos de educação, esporte,cultura e lazer promover atividades que explorem as origens culturais e históricas3da capoeira, bem como sua prática nas diversas modalidades referidas nesta lei.Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.JUSTIFICAÇÃOA capoeira é uma expressão cultural que mistura esporte,luta, dança, cultura popular e brincadeira, desenvolvida por descendentes deescravos africanos trazidos ao Brasil, além de representar a resistência dosnegros à escravidão.Poucos se lembram, mas um dia a arte da capoeira já foiconsiderada criminosa e sua prática banida. Estávamos no início do períodorepublicano e uma das providências do Presidente Marechal Deodoro da Fonsecafoi editar um decreto (Decreto-Lei nº 487, de 1890) determinando que todocapoeirista pego em flagrante seria desterrado para a Ilha de Fernando deNoronha. A criminalização durou até 1937, quando, por iniciativa do PresidenteGetúlio Vargas, a capoeira foi descriminalizada e reconhecida como esporteautenticamente nacional.Desde então a capoeira vem crescendo no Brasil e seespalhando pelo mundo. Tendo em vista a importância da capoeira comopatrimônio de nossa cultura e sua disseminação como esporte, dança, culturapopular, lazer e meio de inserção social, propomos o presente Projeto de Lei comoforma de regulamentar e incentivar a capoeira no Brasil.A capoeira é inequivocamente um traço cultural indelével denossa identidade cultural, expressando- se como arte, ofício e alternativaprofissional para muitos brasileiros.A capoeira tem estrutura bem diferenciada, conseguindo, aum só tempo, manifestar-se como luta, jogo e dança, além de configurar umeficiente sistema de autodefesa genuinamente brasileiro.O folclorista Francisco Pereira da Silva assevera que:"Nenhum fato relacionado com a cultura4popular brasileira terá suscitado tanto e tão prolongado debatequanto a Capoeira. Sua procedência, a origem do nome, asimplicações na ordem social determinaram discussões que atétempos recentes incitaram os espíritos. Etimologistas, antropólogos,folcloristas, historiadores, têm participado na pugne literária com osseus pareceres, testemunhos ou palpites. Enquanto isso, ia a polícia`contribuindo' com o argumento velho do chanfalho e pata decavalaria... "A ilustre Deputada Alice Portugal, em seu Projeto de Lei nº1.271, que "Acrescenta parágrafo único ao art. 2º da Lei nº 9.696, de 1º desetembro de 1998", tece profundas e pertinentes ponderações sobre a capoeira,razão pela qual pedimos a devida vênia para incluir aqui parte de sua justificaçãodessa valiosíssima atividade cultural nacional:"A Capoeira já foi motivo de grandecontrovérsia entre os estudiosos de sua história, sobretudo no que serefere ao período compreendido entre o seu surgimento –supostamente no século XVII, quando ocorreram os primeirosmovimentos escravos de fuga e rebeldia – e o século XIX, quandoaparecem os primeiros registros confiáveis, com descriçõesdetalhadas sobre sua prática.Tem ela uma história acidentada, pontilhada deepisódios vexatórios e truculentos. Perseguida desde o começo, nocaldeirão que misturou as várias etnias que formam o nosso povo,ganhou fama de má prática, coisa de "malandros", "vadios". Aperseguição durou até a década de 1930, quando, graçasprincipalmente ao trabalho de Mestre Bimba – "Grande Mestre daCapoeira" – e seus discípulos, inaugurou-se a fase de efetivasistematização do ensino da capoeira e de seu reconhecimentosocial, assim como o de todas as outras manifestações culturais dematriz africana.O nome "CAPOEIRA" deu-se em função doseguinte: os Escravos ao fugirem para as matas tinham no seuencalço os famigerados Capitães do Mato, enviados pelos senhores.5Os escravos em fuga reagiam e os atacavam, nas clareiras de matoralo, cujo nome é capoeira, com pés, mãos e cabeças, dando-lhessurras ou até mesmo matando-os. Os que sobreviviam voltavam paraos seus patrões indignados. Estes perguntavam: "Cadê os negros?e a resposta era: "Eles nos pegaram na capoeira". Referindo-se aolocal onde foram vencidos.A Capoeira no meio das matas era praticadacomo luta mortal. Já nas fazendas, era praticada como brinquedoinofensivo, pois ela estava sendo feita sob os olhares dos Senhoresde Engenho. Naquele momento se transformou em dança. Paradisfarçarem a luta utilizavam a ginga, a base de qualquer"capoeirista" ; e é dela que saem todos os golpes. Esse disfarce foifundamental para a sobrevivência dos escravos, pois a Capoeira é,principalmente, na sua origem, uma luta de resistência.A capoeira reúne todos estes componentesoriginais, o que lhe outorga uma excepcional riqueza artística,melódica e dinâmica; um enorme potencial evolutivo e finalmente,uma gama intensa de aplicações esportivas, coreográficas,terapêuticas, pedagógicas etc., que abrange desde o simples jogo àsfranjas das artes marciais e da defesa pessoal."Pelo exposto, peço aos nobres pares o apoio necessáriopara a aprovação da matéria.Sala das Sessões, em 19 de fevereiro de 2008.CARLOS ZARATTINIDeputado Federal – PT/SP

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A política da capoeiragem: a história social da capoeira e do boi-bumbá no Pará republicano (1888-1906)

A política da capoeiragem: a história social da capoeira e do boi-bumbá no Pará republicano (1888-1906)Luiz Augusto Pinheiro LealISBN 978-85-232-0482-2Editora: UFBA237 p / R$ 25,00
O livro A política da capoeiragem: a história social da capoeira e do boi-bumbá no Pará republicano (1888-1906), escrito por Luiz Augusto Pinheiro Leal, será lançado na Casa de Benim (Pelourinho), no dia 11 de abril, às 18 horas. O autor retrata a história da capoeiragem durante a república no Brasil.
A obra faz um relato sobre capoeira no Brasil no início do século XX. Tem como foco a região do Pará, onde a capoeira tem peculiaridaes diferentes da região da Bahia e do Rio de Janeiro. O livro é dividido em três capítulos e mostra a relação da capoeira com o Boi-bumbá e a capangagem. Revela, também, a participação da capoeiragem na implantação da República no Brasil e as campanhas repressivas à capoeira e à "vagabundagem" na cidade de Belém. No fim da obra encontra-se uma lista com os capoeiras do Pará antes da década de 70, assim como, um elucidário com termos característicos do lugar e da época citada.
Sem dúvida, A política da capoeiragem: a história social da capoeira e do boi-bumbá no Pará republicano (1888-1906) é uma valiosa contribuição para a historiografia da capoeira no Brasil.

Luiz Augusto Pinheiro Leal graduou-se em História pela Universidade Federal do Pará, cursou Especialização em Teoria Antropológica pela mesma universidade, concluiu o Mestrado em História Social pela Universidade Federal da Bahia e, atualmente, desenvolve sua formação no Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos da UFBA. É membro do Malungo Centro de Capoeira Angola e Colaborador do Conselho de Capoeiras do Pará.
"Ao mesmo tempo, a capoeira é transformada na competente pena de Luiz Augusto em uma janela para se observar a história dessa classe trabalhadora. Neste e em outros aspectos, é especialmente criativo o uso que ele consegue fazer da literatura como fonte para a história que narra."
João José Reis

O quê: Lançamento do livro A política da capoeiragem: a história social da capoeira e do boi-bumbá no Pará republicano (1888-1906), escrito por Luiz Augusto Pinheiro Leal
Quando: 11 de abril, sexta-feira.
Onde: Casa de Benim (Pelourinho)
Horário: 18 horas
Mais: O livro terá um preço promocional de R$20,00 reais durante o evento