terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Eu e a Capoeira Angola.

Lá por Oitenta e poucos eu treinava Capoeira com Mestre Miguel Machado do Grupo Cativeiro ele tinha a idéia de inserir “treinos” de Capoeira Angola na sua metodologia de ensino de Capoeira. Certa vez Mestre Miguel levou Mestre João Pequeno a Porto Alegre em um de seus eventos. Eu tive a oportunidade de conhecer o Mestre e leva-lo a uma Casa de Nação onde acontecia uma festa de religião onde meu Pai de Santo Carlinhos de Oxum tocava. Mas eu jogava Capoeira Regional e tinha o cordão amarelo no Grupo Cativeiro. Sempre tive a constituição física frágil mas sempre acreditei que a Capoeira não era força física mas sim astúcia e inteligência.

Embora até aquele momento só conhecer uma Capoeira em que era indispensável ter o físico superdotado ou bombado o que sempre foi o mais comum. Mas essa historia de Capoeira Angola me atiçou me deixou curioso e senti que ali talvez estivesse a resposta para minhas questões relativas a pratica da Capoeira.

Em 1985 passou por Porto Alegre um grupo de teatro de Belo Horizonte que apresentava uma montagem muito incrível o “Tatuturema” e desse grupo fazia parte Mestre Rogério Rasta que me mostrou os primeiros passos na Capoeira Angola e lhe mostrei a capoeragem do Grupo Cativeiro, na Diretoria Natural com Mico, Ratinho, Jaburu, entre outros. Mestre Rogério foi embora e continuei a treinar minha Capoeira.

Em 1992 fui trabalhar em Belo Horizonte e a duas quadras do meu escritório na Rua Alagoas, na Savassi era a sede do Grupo Iuna e um dia ao sair do trabalho para tomar o ônibus para casa ouvi o som do Berimbau, e depois de passar muitas vezes diante da porta que saia o som do Berimbau, subi e mesmo de terno e gravata fiquei a observar André, Jouvert e Marcio tocando em um banco eles me ofereceram o pandeiro e não demorou para que eu estivesse ali com o Grupo Iuna de Mestre Rogério Rasta que nessa época já morava na Alemanha.

Conheci Mestre Primo e fiz grandes amigos como a doutora Fafa, os Ricardos Branco e o Ricardo Moreno, e o Dú que foram parceiros de sempre. Nessa época eu questionava tudo com relação a Capoeira Angola e tentava contrapor com visão de Capoeira Regional. O Iuna era um grupo muito grande quando comecei a conviver com eles. Por problemas financeiros para manutenção do espaço que era localizado numa área nobre da cidade aconteceu um grande racha no Grupo Iuna passaram a questionar a autoridade de Mestre Primo que era a principal referencia da Capoeira Angola do Grupo.

Eu mais os Ricardos (branco e o moreno) e o Dú mais adiante apoiados pela doutora Fafa jogamos Capoeira Angola em muitos lugares sustentando a proposta da Capoeira Angola do Grupo Iuna, juntamente com Mestre Primo levamos a Capoeira Angola para consultório medico, centros de cultura, sindicatos, escolas.
Conheci grandes capoeiristas em Belo Horizonte, Mestre João, Mestre Edson, Mestre Jurandir, Mestre Léo, Mestre René, pessoas comprometidas com a Capoeira Angola, lindas angoleiras como Andréia, Alcione, Marilene, Raquel, Toninha,

Essa historia seguiu para Salvador quando novamente fui transferido e desta vez para morar na cidade do Salvador. Cheguei em novembro de 1997 e acontecia evento do GCAP no SEBRAE com a presença de Mestre João Grande. Chegando na cidade visitei Mestre Cúrio e treinei cerca de um mês em uma escola no Pelourinho. Também fui conhecer a academia de Mestre João Pequeno onde fiz uma grande amizade com Ritinha uma das mais antigas alunas do Mestre, conheci o Zóinho, Mestre Cyro Rasta, a neta do mestre, bem novinha acompanhava ele sempre. Finalmente fui bater no GCAP onde me identifiquei com a filosofia de trabalho, o alto nível de exigência, a pratica de uma capoeira integral mente, corpo e espirito. Aprendi malmente a tocar e cantar capoeira, o GCAP possui uma consagrada bateria e Mestre Moraes é um dos maiores cantadores de capoeira. Esse meu malmente,  me fez ver que de fato aprendi a ser um capoeira que joga, que toca e que fala e conhece a respeito do que pratica. Estive presente no aniversario de 50 anos do Mestre Moraes com um roda e um feijão lá na Massaranduba, presentes Mestre Bigodinho que abriu a roda cantando uma ladainha, Mestre Virgilio ao Gunga, Mestre Nõ e do GCAP Honorato, Alvaro, Pepeu, Marcio, Cizinho, Neide, Roberto, Marco Rasta. Grande e inesquecível  momento de minha vivencia na Capoeira Angola. Em 2003 retornei para o Rio Grande do Sul e me incorporei a criação do núcleo GCAP em Porto Alegre, a partir do Grupo Egbé, do Mestre Joka, treinávamos lá nos galpões do Estaleiro Só, abandonado e decrepito no inverno era um frio mortal a beira do rio e o Minuano assobiando, somente mesmo com muita Capoeira Angola para suportar. Bons tempos, novas e grandes amizades, Joka, Jean, Paulo, Marcão, Baixinho, Marcelo, Daniel, a Kátia (que depois foi para o GCAP em Salvador) e outros  e outros valorosos camarados.
No começo de 2007 fui trabalhar em Brasilia e acabei ficando por lá até 2009 e participei do Grupo Nzinga, coordenado pelo Haroldo onde conheci um grande amigo Swai, lá na W3 Norte, na 708/709, o Grupo Nzinga, nessa época era muito bem estruturado e grande.  Nas rodas de rua em frente ao Conjunto Nacional conheci o Chico que chegava de Salvador e estava começando o grupo de estudos da FICA DF. Grande parceiros e amigos Chocolate, Formiguinha (Semente de Angola), Jean, Popó,  treinávamos na famosa Comunidade Praia Verde (Chico Piauí), na Candangolândia  onde aconteceram grandes festivais de arte. Eu o Chico a Cyrce, e a pequena Larissa começamos o Grupo de Estudos que hoje esta consolidado. Esse período me permitiu conviver mais perto do Mestre Cobrinha (Cobra Mansa) o que também foi muito importante.
Em janeiro de 2010 vim para Belém do Pará e esta historia continua. 

Minha história com a Capoeira começou em 1978.

Comecei a praticar a Capoeira em 1978, com Mestre Índio do Mercado Modelo, com o Grupo de Capoeira Regional Filhos de Oxossi, foi uma das primeiras academias de capoeira de Porto Alegre. O local era no terceiro andar de uma das entradas secundarias da Galeria do Rosário, na parte inacabada do prédio que por sinal continua inacabado até hoje. O acesso era feito pela Gal. Vitorino, ou pela própria Alberto Bins.  Eu era bastante magro e não levava jeito para o troço tinha muita dificuldade. Um fato pitoresco é que o Mestre já morava na cidade há algum tempo mas ainda  não tinha fincado raízes na cidade. Ele morava numa quitinete no mesmo local da Academia e ele mesmo que tentava organizar a parte administrativa da academia. Foi quando apresentei para o Mestre minhas amigas  Maria, sua prima Jussara lá da Vila Ingá. Elas passaram a secretariar a Academia e conviver  com o Mestre que inclusive acabou se casando com a Jussara. No grupo Filhos de Oxossi conquistei o cordel verde o primeiro da capoeira regional em um grande batizado realizado no Petrópolis Tênis Clube. No início da década de 80 o Mestre foi convidado a dar aulas em uma grande e conceituada academia de dança de Porto Alegre a Academia Mudança, nesta ocasião à antiga Academia da Galeria do Rosário acabou e como muitos alunos não tiveram condição de acompanhar a mudança do centro para a avenida Independência ficaram de fora desse novo momento do grupo Filhos de Oxossi. No grupo Filhos de Oxóssi conheci capoeiristas como Ligeirinho, Grilo, Carcará, Biriba, Kunta Kinte, Torelli, entre outros. A capoeira praticada nesta época era bastante agressiva e exigia grande desenvolvimento físico e  técnico o biótipo era fundamental para se destacar e evoluir no processo.  Os treinamentos seguiam a linha militar com varias sessões de treinamento sucessivas com repetição de golpes e seqüências nesta época não se falava claramente em seqüência de regional de Bimba embora se praticasse alguma coisa da seqüência e dos balões cinturados.
Com o fechamento da Academia no centro e a novas condições para fazer capoeira na Mudança, acabei indo treinar com um dos alunos formados pelo Mestre Índio o Eduardo Torelli. Nesta ocasião treinávamos na sede da Federação Gaúcha de Pugilismo na esquina da rua Riachuelo com Caldas Junior em um casarão muito antigo o grupo se denominava Macunudos do Berimbau nome de autoria do Torelli, neste grupo tive o apelido de Zeus devido a uma grande barba que eu usava na época. Os treinos eram muito pegados e cheguei a quebrar a fíbula ao receber uma meia lua de compasso em certa ocasião. Os treinamentos seguem a linha militaresca com sessões de treinamentos específicos ainda não se falava abertamente em seqüência de Bimba. Eu ainda era meio desajeitado mas era insistente e num batizado realizado lá mesmo no velho casarão da Riachuelo, com a presença de Carcará e do  Nino, recebi o cordel verde-amarelo. Pouco tempo depois o casarão foi considerado comprometido e tivemos que parar de treinar lá subitamente, em seguida ele foi derrubado. Nessa época havia  chegado em Porto Alegre o Mestre Miguel Machado e estava estabelecido com sua academia e com o Grupo Cativeiro de capoeira na r. Gen. Câmara, mais ou menos no meio da quadra em um prédio de três andares. Fui treinar com o Grupo Cativeiro por indicação do próprio Torelli, bem, antes tive que passar por período de testes e provações que durou mais ou menos uns três meses onde era permanentemente testado quanto as minhas condições físicas e meus propósitos com a capoeira. Mestre Miguel era bastante comprometido com questões políticas, raciais e sociais e não aceitava como seus alunos só quem pudesse pagar para aprender seu conhecimento tinha que ter compromisso com o grupo e com a capoeira. Estávamos talvez em 1983 e já chegava ao cordão amarelo e convivi com Treze, Ivonei, Chola, Bartelemi, Mico, Ratinho, Fernando, Jaburu, Marcelo entre outros. Foi atraves das idéias do Mestre Miguel que passou a aprofundar o conhecimento a respeito da Capoeira Angola que comecei a despertar meu interesse para questões que envolvessem aspectos sociais, culturais e raciais relacionados com a capoeira.  Sempre tive muitas dúvidas a respeito da exigência de se possuir um biótipo especial que te habilitasse a praticar capoeira que era o modelo que eu conhecia do Filhos de Oxossi. Entendia que ao contrario a capoeira era muito mais astúcia, técnica do que força. Essas questões me levavam a questionar a capoeira regional como única verdade absoluta a respeito da capoeira. Os treinamentos na escola de Mestre Miguel já não são tão rígidos e militarescos, já predominam os movimentos de capoeira, se fala e se pratica a seqüência de capoeira regional de Mestre Bimba e os balões cinturados. Em outra ocasião Mestre Miguel levou Mestre João Pequeno a Porto Alegre e eu levei o Mestre e alguns de seus alunos que o acompanhavam na ocasião a uma festa de batuque na Vila São José, na qual meu pai de santo Carlinhos da Óxum se apresentava como Alabê. Ao final de 1984 Mestre Miguel retornou para a Bahia e eu tive a oportunidade de lhe visitar na ilha de Itaparica e ter meu primeiro contato com a capoeira na cidade do Salvador, onde conheci aida vivo Waldemar da Liberdade e trouxe dois berimbaus feitos pelo Mestre, conheci a capoeira na Ilha de Itaparica.
Em 1985 conheci Rogério Rasta de Belo Horizonte que veio a Porto Alegre com um grupo de teatro e pela primeira vez alguém se apresentou como angoleiro de fato, na ocasião levei ele na Diretoria Natural local que o Mico dava aulas e ele falou a respeito de Mestre Pastinha e da Capoeira Angola. Alguns anos mais tarde em 1992 fui morar em Belo Horizonte e próximo do local em que eu trabalhava eu passava e ouvia o som de berimbaus. Um dia resolvi entrar e mesmo de terno e gravata me ofereceram um pandeiro que toquei junto com  Jauvert, André e Primo, bem passei a freqüentar o local e treinar regularmente a Capoeira Angola que era coordenada pelo Primo, mas participavam vários grandes e bons capoeiristas como Andréia, Edu, Alcione, os Ricardos, era o Grupo Iuna de Capoeira Angola, este grupo tinha sido fundado por Rogério Rasta que nessa época estava na Alemanha. Conheci a fina flor da capoeiragem de Beaga, o GCAP de Léo, Wiliann,  a FICA de Jurandir . O Joãzinho com sua academia no terraço da Rua da Bahia e sua roda. O Edson a Dra. Fafá. Aprendi os fundamentos da capoeira angola em Belo Horizonte e também foi lá que conheci Mestre Moraes.  Com quem desde 1997 passei a treinar desde que fui morar em na cidade do Salvador. Mestre Moraes é o responsável pela  idéia de uma formação integral na capoeira fundindo elementos místicos, rutualisticos, sociais, culturais e filosóficos. Não existe capoeira sem comprometimento isso Mestre Miguel já havia me ensinado, mas  é essencial   saber  o que estamos fazendo e porque estamos fazendo a capoeira nesse momento histórico qual seu significado. O Grupo de Capoeira Angola Pelourinho com que convivi era formado pelos seguintes capoeiras: Pepeu, Marcio, Ulugimi, Honorato, Neide, Verônica, Linda, Álvaro, Roberto, Marcos Rasta, Lenilton entre outros. Morei em no Salvador até 2003 quando retornei para o Rio Grande do Sul me fixei em Restinga Seca onde desenvolvi projeto com a comunidade remanescente de quilombo do São Miguel, Onde procuramos despertar o conhecimento e o interesse pela nossa historia em crianças e adolescentes da comunidade. Participei da tentativa de criação do núcleo do GCAP em Porto Alegre mas desde muito cedo identifiquei dificuldades para consolidar o projeto,  estive envolvido até o seu final.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O arauto da não violência

A importância de Mestre Pastinha para a Capoeira Angola
O arauto da não violência
O pai da Capoeira moderna

Fala-se  em Pastinha como um mito distante algo incompreensível ou que precise de uma tradução para que seu legado seja compreendido pelas novas gerações.

A capoeira até o início do século vinte era praticada na rua, ou melhor, a céu aberto. Como uma manifestação espontânea que acontecia nos momentos de folga do trabalho escravo. Assim sendo sua transmissão ocorria naturalmente sem qualquer preocupação didática. O conhecimento era incorporado pelo convívio com o iniciado que a praticava nessas ocasiões e assim disseminava-se seu conhecimento.

Após a abolição da escravatura, os escravos, naturais praticantes e criadores da Capoeira.  Perambulavam sem emprego ou qualquer condição digna de sobrevivência. Nesta época aqueles que se destacavam pelas suas habilidades físicas, conhecimento de luta e valentia começaram a ser valorizados e eram contratados por ricos comerciantes e políticos para fazerem sua segurança.

Nesta ocasião o conhecimento de Capoeira teve grande destaque, e passou a ser transmitido por iniciados  a grupos fechados que a praticavam como luta feroz de imposição física  acompanhada de armas brancas. Esses grupos se espalharam principalmente pelo Rio de Janeiro, sua violência extrapolou todos os limites da lei e do convívio social. Sem a possibilidade de uma vida em sociedade, foram perseguidos e caçados seu conhecimento passou a ser tratado como arma mortal nos códigos de lei, bem como  passível de severas penas de prisão.

Foi exatamente nesse momento que, pela primeira vez, o conhecimento de Capoeira foi sistematizado e transmitido em grupos fechados exatamente pela forma como esses grupos se organizavam e preparavam suas estratégias.    Por muitos anos permaneceu o estigma de violência e agressividade gratuita ligada à Capoeira. 

Bem, aí chegamos a Pastinha. No início do século XX ele se deu conta da importância do conhecimento da Capoeira e entendeu que ela somente seria novamente valorizada e reconhecida se a violência e a agressividade gratuita desaparecem, fossem banidas de seu contexto.  Nesse momento a Capoeira ainda era considera arma mortal e seu uso passível das penas da lei.

Pastinha também deu-se conta da importância do conhecimento da Capoeira para a valorização e reconhecimento da identidade de seus praticantes ex-escravos afro descendentes. Da grandeza e profundidade de elementos étnicos e culturais integrantes de sua expressão portanto fundamentais para a formação e afirmação, principalmente, dos excluídos e discriminados, que haviam perdido seus referenciais de identidade. Ele afirmou o valor e a realeza de sua origem através da integração dos elementos rituais que se manifestam através dela, com isso projetando uma dimensão sobrenatural ao seu acontecimento.

Tornou-se figura catalisadora das idéias que fundamentaram a concepção da Capoeira Angola, e os principais capoeiristas de sua época lhe delegaram a missão de conduzir a pratica da Capoeira para as futuras gerações.

Praticá-la em local fechado, através de praticantes interessados em defender sua identidade étnico cultural, com o propósito do reconhecimento de sua importância como elemento formador dos indivíduos, no sentido da afirmação de seus valores.  Utilizando  uma das mais complexas manifestações da cultura dos ex-escravos, afro descentes, fundindo elementos religiosos a Capoeira  retrata deuses, guerreiros e vadios de toda a sorte, características gerais de um povo, nela todos os arquétipos deste povo são revividos através dos elementos rituais que permitem sua criação e manifestação.  O formato bateria, roda, coro, jogadores, com a definição dos instrumentos que compõem a bateria sua disposição e quantidades no recinto da roda de Capoeira Angola,  ficaram consolidados a partir de mestre Pastinha. O banimento da agressividade gratuita trocada pela astúcia, pela perspicácia dos jogadores, o sentido brincalhão e debochado evocando figuras do imaginário popular para se manifestarem através dos jogadores construindo essa grande ponte entre o passado e o presente que se materializa quando todos os elementos rituais se conjugam, aí nesse instante sim, os ancestrais se manifestam e o verdadeiro sentido da Capoeira Angola se perpetua.     

Dessa circunstancia é que pode-se dizer que surgiu a primeira escola e grupo formal de Capoeira, a valorização de seus elementos culturais e o caráter de celebração. A exclusão da agressividade gratuita, da violência pela violência caracterizam a Capoeira Angola de Mestre Pastinha, que vem sendo sustentada nos dias de hoje principalmente por Mestre João Grande e seu aluno devotado Mestre Moraes.  


Esse é exatamente o inicio do ensino sistematizado, em local fechado e com o objetivo de formar indivíduos capazes de tornarem manifesta a tradição cultural dos afro descentes, ex-escravos, agora cidadãos livres, dignos e imbuídos de grande conhecimento de suas origens que reconhecem e afirmam seus valores.

A estética no jogo

A estética no jogo da Capoeira Angola

Falar de estética no jogo de Capoeira Angola é trazer à baila uma discussão sobre o que é belo e o que é feio. Etimologicamente, a palavra estética vem do grego aisthesis que dentre outros significados quer dizer também "percepção totalizante ", daí o erro daqueles que querem ver a beleza analisando só o exterior do objeto sabendo-se que a beleza é subjetiva.
O cognocentismo cartesiano é de pouca valia na questão do que é belo ou feio, mas a sensibilidade artística não deixará sem resposta o curioso.
O verdadeiro " angoleiro " não tem, em nenhum momento, o interesse de tornar " fácil ", para os observadores do "jogo", a interpretação dos seus movimentos mas exigir atenção especial para o universo cênico da Capoeira Angola. O " bailarino " traduz sua emoção sem se preocupar com uma estética pré-estabelecida mas com movimentos instintivos, através dos quais vai mostrando para a platéia sensível o que tem a exprimir. A expressão da força criadora do capoeirista angoleiro atinge sua plenitude quando acontece a íntima fusão entre a expressão e a forma associadas ao feeling.
A forma da Capoeira Angola é própria, o que eu chamaria de forma deformada para uma comparação com a forma objetiva racional. Daí, a Capoeira Angola não ter forma definida dentro do juízo objetivo, mas sim, subjetivo.
Só observará estética na Capoeira Angola, aquele que entendê-la como arte de homem, que um dia foi livre e naquele momento seu referencial primeiro foi a natureza, representada por todos os seus elementos, os quais já são estéticos na sua essência.
"Ninguém joga do meu jeito ", dizia Mestre Pastinha em sua singular sabedoria enquanto angoleiro que foi, o que significa dizer que na Capoeira Angola o belo e o feio se confundem com o objetivo de criar arte sem fragmentação.

Mestre Moraes