Lá por Oitenta e poucos eu treinava Capoeira com Mestre
Miguel Machado do Grupo Cativeiro ele tinha a idéia de inserir “treinos” de
Capoeira Angola na sua metodologia de ensino de Capoeira. Certa vez Mestre
Miguel levou Mestre João Pequeno a Porto Alegre em um de seus eventos. Eu tive
a oportunidade de conhecer o Mestre e leva-lo a uma Casa de Nação onde
acontecia uma festa de religião onde meu Pai de Santo Carlinhos de Oxum tocava.
Mas eu jogava Capoeira Regional e tinha o cordão amarelo no Grupo Cativeiro.
Sempre tive a constituição física frágil mas sempre acreditei que a Capoeira
não era força física mas sim astúcia e inteligência.
Embora até aquele momento só
conhecer uma Capoeira em que era indispensável ter o físico superdotado ou
bombado o que sempre foi o mais comum. Mas essa historia de Capoeira Angola me
atiçou me deixou curioso e senti que ali talvez estivesse a resposta para
minhas questões relativas a pratica da Capoeira.
Em 1985 passou por Porto Alegre
um grupo de teatro de Belo Horizonte que apresentava uma montagem muito
incrível o “Tatuturema” e desse grupo fazia parte Mestre Rogério Rasta que me
mostrou os primeiros passos na Capoeira Angola e lhe mostrei a capoeragem do
Grupo Cativeiro, na Diretoria Natural com Mico, Ratinho, Jaburu, entre outros.
Mestre Rogério foi embora e continuei a treinar minha Capoeira.
Em 1992 fui trabalhar em Belo
Horizonte e a duas quadras do meu escritório na Rua Alagoas, na Savassi era a
sede do Grupo Iuna e um dia ao sair do trabalho para tomar o ônibus para casa
ouvi o som do Berimbau, e depois de passar muitas vezes diante da porta que
saia o som do Berimbau, subi e mesmo de terno e gravata fiquei a observar
André, Jouvert e Marcio tocando em um banco eles me ofereceram o pandeiro e não
demorou para que eu estivesse ali com o Grupo Iuna de Mestre Rogério Rasta que
nessa época já morava na Alemanha.
Conheci Mestre Primo e fiz
grandes amigos como a doutora Fafa, os Ricardos Branco e o Ricardo Moreno, e o
Dú que foram parceiros de sempre. Nessa época eu questionava tudo com relação a
Capoeira Angola e tentava contrapor com visão de Capoeira Regional. O Iuna era
um grupo muito grande quando comecei a conviver com eles. Por problemas
financeiros para manutenção do espaço que era localizado numa área nobre da
cidade aconteceu um grande racha no Grupo Iuna passaram a questionar a
autoridade de Mestre Primo que era a principal referencia da Capoeira Angola do
Grupo.
Eu mais os Ricardos (branco e o moreno)
e o Dú mais adiante apoiados pela doutora Fafa jogamos Capoeira Angola em
muitos lugares sustentando a proposta da Capoeira Angola do Grupo Iuna, juntamente
com Mestre Primo levamos a Capoeira Angola para consultório medico, centros de
cultura, sindicatos, escolas.
Conheci grandes capoeiristas em
Belo Horizonte, Mestre João, Mestre Edson, Mestre Jurandir, Mestre Léo, Mestre René,
pessoas comprometidas com a Capoeira Angola, lindas angoleiras como Andréia,
Alcione, Marilene, Raquel, Toninha,
Essa historia seguiu para
Salvador quando novamente fui transferido e desta vez para morar na cidade do
Salvador. Cheguei em novembro de 1997 e acontecia evento do GCAP no SEBRAE com
a presença de Mestre João Grande. Chegando na cidade visitei Mestre Cúrio e
treinei cerca de um mês em uma escola no Pelourinho. Também fui conhecer a
academia de Mestre João Pequeno onde fiz uma grande amizade com Ritinha uma das
mais antigas alunas do Mestre, conheci o Zóinho, Mestre Cyro Rasta, a neta do
mestre, bem novinha acompanhava ele sempre. Finalmente fui bater no GCAP onde
me identifiquei com a filosofia de trabalho, o alto nível de exigência, a
pratica de uma capoeira integral mente, corpo e espirito. Aprendi malmente a
tocar e cantar capoeira, o GCAP possui uma consagrada bateria e Mestre Moraes é
um dos maiores cantadores de capoeira. Esse meu malmente, me fez ver que de fato aprendi a ser um
capoeira que joga, que toca e que fala e conhece a respeito do que pratica.
Estive presente no aniversario de 50 anos do Mestre Moraes com um roda e um
feijão lá na Massaranduba, presentes Mestre Bigodinho que abriu a roda cantando
uma ladainha, Mestre Virgilio ao Gunga, Mestre Nõ e do GCAP Honorato, Alvaro,
Pepeu, Marcio, Cizinho, Neide, Roberto, Marco Rasta. Grande e inesquecível momento de minha vivencia na Capoeira Angola.
Em 2003 retornei para o Rio Grande do Sul e me incorporei a criação do núcleo
GCAP em Porto Alegre, a partir do Grupo Egbé, do Mestre Joka, treinávamos lá
nos galpões do Estaleiro Só, abandonado e decrepito no inverno era um frio
mortal a beira do rio e o Minuano assobiando, somente mesmo com muita Capoeira
Angola para suportar. Bons tempos, novas e grandes amizades, Joka, Jean, Paulo,
Marcão, Baixinho, Marcelo, Daniel, a Kátia (que depois foi para o GCAP em
Salvador) e outros e outros valorosos
camarados.
No começo de 2007 fui trabalhar
em Brasilia e acabei ficando por lá até 2009 e participei do Grupo Nzinga,
coordenado pelo Haroldo onde conheci um grande amigo Swai, lá na W3 Norte, na
708/709, o Grupo Nzinga, nessa época era muito bem estruturado e grande. Nas rodas de rua em frente ao Conjunto
Nacional conheci o Chico que chegava de Salvador e estava começando o grupo de
estudos da FICA DF. Grande parceiros e amigos Chocolate, Formiguinha (Semente
de Angola), Jean, Popó, treinávamos na
famosa Comunidade Praia Verde (Chico Piauí), na Candangolândia onde aconteceram grandes festivais de arte. Eu
o Chico a Cyrce, e a pequena Larissa começamos o Grupo de Estudos que hoje esta
consolidado. Esse período me permitiu conviver mais perto do Mestre Cobrinha (Cobra
Mansa) o que também foi muito importante.
Em janeiro de 2010 vim para Belém
do Pará e esta historia continua.