quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O jogo de Capoeira Angola acontece em dois planos

O jogo de Capoeira Angola acontece em dois planos o objetivo e o subjetivo:O plano objetivo é aquele que é visível e acontece no âmbito da matéria, do físico, do concreto.Nesse plano o jogo de Capoeira Angola de acordo com a concepção transmitida por Mestre Pastinha é uma melhor de três em que se um dos jogadores superar o oponente duas vezes ganhou o jogo e se houver empate vai a negra, sempre existe um vencedor. Cada ponto ou etapa pode ser marcado por uma chamada ou um reinicio ao pé do berimbau. Essa marcação é feita pelos próprios jogadores e preferencialmente pelo fiscal que sempre estará determinando cada estagio do jogo até o seu final.O jogo de Capoeira Angola sempre é de “dentro” e acontece à curta distancia entre os jogadores. O “jogo de dentro” favorece a defesa não dá chance para o ataque contundente que necessita de espaço poder acontecer. Nesse sentido o jogo de Capoeira pode ficar bastante “travado” pois nenhum dos jogadores dá espaço para o outro. O objetivo no jogo de Capoeira Angola é a supremacia sobre o espaço, no jogo os jogadores buscam sempre se antecipar um ao outro em disputa permanente pelo espaço, aquele que chega primeiro no ponto futuro sempre estará em vantagem e terá condições de subjugar o adversário. Isso deve ocorrer através de movimentos desequilibrantes que podem ser aplicados com a cabeça com as cabeçadas ou com os pés chapas e rasteiras. Não existem movimentos contundentes, mesmo a chapa deve ser aplicada apenas para derrubar o adversário e não para bater ou quebrar o que é perfeitamente possível devido à condição conquistada por quem esta em vantagem, porem o código de ética e respeito que rege a Capoeira Angola não admite que se agrida ao adversário para demonstrar autoridade ou poder no jogo, isso é considerado covardia no contexto da Capoeira Angola. Não há necessidade do jogador bater para provar que é melhor. A palavra chave para o angoleiro nesse sentido é controle-motor, ou seja a capacidade de controlar seus movimentos de modos a preservar a integridade física do seu adversário. Esse termo é utilizado por Mestre Moraes para definir essa condição indispensável ao jogador de Capoeira Angola.O plano subjetivo é aquilo que muitos chamam de “mandinga”, “malicia”, se refere à sensibilidade do jogador de Capoeira Angola, sua capacidade de reagir com movimentos característicos e tradicionais a cada situação proposta dentro do jogo e está intimamente relacionada com a ancestralidade com o transe. Nesse contexto o jogador é o “cavalo” dos ancestrais que se incorporam ao jogador durante o jogo. Para haver essa incorporação o processo é semelhante ao que ocorre nas religiões de matriz africana são ensinados passos e movimentos característicos ao iniciado que após dominar esse conhecimento esta preparado para “receber” os ancestrais. O jogador de Capoeira Angola no momento do jogo perde sua persolidade original deixa de ser João, Paulo, Maria e passa a ser uma entidade ancestral “o jogador” que se manifesta no plano concreto através de seus movimentos característicos que são reproduzidos, só no solo brasileiro a mais de quatrocentos anos e em áfrica seguramente a mais de cinco mil anos. Perde a noção de tempo e se transfere para um plano atemporal durante o período em acontece jogo. São entidades primitivas que não tem fala, são os arquétipos dos bêbados, dos tabaréus, dos cantadores, dos sacis, dos malandros, entre outras figuras míticas do imaginário afro brasileiro. Pelo exposto a “mandinga” a “malicia” ou outro termo que se queira utilizar para denominar a sensibilidade ou subjetividade do jogador não é resultado de treinamento objetivo da repetição de movimentos desconectado do contexto histórico cultural e etnográfico somente a partir desse conhecimento é que o jogador estará adquirindo a condição de evoluir e conquistar naturalidade nesse processo.Quanto maior o rigor na execução do ritual melhor o nível de expressão da Capoeira Angola que estará trazendo o passado para o presente para construírem o futuro.